sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A meiga Doreen Green - uma breve análise



Poucos heróis são tão carismáticos e têm uma imagem tão reconfortante quanto Doreen Green, a Garota Esquilo. Se muitos dos criados dos anos setenta para cá, são praticamente desconhecidos do grande público, por falta de divulgação decente, imaginem uma que é tida como segundo escalão da Marvel.

Se o nome de guerra já soa estranho, apesar do belo nome de baptismo, seus feitos são ainda mais! E merecem uma reflexão que vai muito além das acaloradas discussões de adolescentes barbados, em fóruns de internet.


Vamos antes à nossa doce mutante. É muito jovem, tem cerca de dezoito anos, 1,6m de altura e 45kg... Esbelta! Nasceu em Los Angeles, ou seja, conhece a vida barra pesada de uma cidade que tem glamour de sobra, para quem puder pagar. Todas as versões de sua figura, da mais recatada à mas sexy, mostram o frescor juvenil. E são muitas versões, algumas altamente pervertidas! Estas eu NÃO MOSTRAREI, tirem o esquilinho da chuva!

Não vive de ser heroína, ela se vira para se sustentar e custear os estudos. Seu emprego mais recente é de babá da filhota de Luke Cage e Jessica Jones, dos novos Vingadores... Se a menina começar a escalar paredes e saltitar entre os galhos das árvores, eles não reclamem, pois conhecem a baby sitter que contractaram.

Ah, sim, apesar de muito responsável, ela é meio maluquinha. Fecha o tempo e escancara um sorriso com a mesma facilidade. Sua primeira aparição, em 1992, foi meio tosca, ela parecia uma fugitiva do manicômio usando um uniforme sujo de um enfermeiro, com apliques de pelúcia e um monte de pochetes. Depois da versão tosca de estréia é que o uniforme foi transformado em um maiô de peles, com a parte de baixo variando entre nada e uma malha completa.

Suas habilidades são controversas. Sua calda de esquilo não faz parte do uniforme, nasceu nela... Imaginem o buliyng que a coitada sofreu, na escola! Ela consegue controlar os esquilos como o Aquaman controla as criaturas marinhas, consegue sua cooperação completa e irrestrita. Tem super força, que varia entre levantar de 200kg a 25 toneladas, ou seja, entre um triciclo grade e um caminhão pesado. Sua agilidade, vocês já podem deduzir, é extraordinária, bem como seus sentidos são aguçados. Faz qualquer mestre de artes marciais parecer uma lesma com letargia.

Com essas credenciais, ela entrou em combate e venceu serelepe, muitos vilões, atiçando a ira dos fãs dos bandidos de quadrinhos, inclusive Doutor Doom e Thanos... Bem, isso tem explicação. E não está na variação de seus poderes. Antes de continuar, eu esclareço que não gosto de bandido, seja real, seja de ficção. Chatice se cura com terapia, perversidade é bem mais difícil.

Eu já falei aqui do péssimo hábito de humanizar os heróis da pior forma possível: maculando o caráter, deturpando a personalidade, colocando herói contra herói,
enfraquecendo-o, subtraindo sua bravura quando até policiais comuns se põe na linha de tiro sem hesitar, transformando heróis perfeitos em garotões mimados, corrompendo, et cétera. Um grupo inteiro de heróis apanhando de um vilão que sai ileso e pronto para a festa, ao fim do combate, sendo derrotado por um golpe de sorte, no final.

Vamos à boa e velha psicologia. Essa gente tem problemas com a autoridade, geralmente tem dificuldades em manter um relacionamento sadio, e não raro se rende a prazeres destrutivos; o oposto do que o herói clássico é.  Vamos ser francos, não prestar está na moda, o alívio hormonal que isso causa é quase imediato e as pessoas querem isso. O resultado não poderia ser outro, como índios sendo queimados e indigentes enterrados vivos na praia, além de garotas sendo agredidas e mortas por recusarem uma cantada. Um mundo assim é muito hostil às pessoas que tentam ser boas, imaginem um Kal-El da vida, que é a abnegação e bondade personificada! Se bem que ele é da DC...

Sabem qual é uma das principais características de gente assim? É não suportar a felicidade. Nem mesmo a própria. Eles acham que o mundo não presta, que ninguém presta, que eles mesmos não prestam e, muitas vezes inconscientemente, sabotam sua própria felicidade, quando não a de todos ao seu redor. Por isso têm dificuldades em manter um relacionamento saudável, sem recorrer a hábitos destrutivos e egoístas. Eles se odeiam. Para se punirem, destroem as figuras por quem começam a nutrir alguma admiração, seja uma pessoa, um casamento ou um herói.


Claro que, na hora do aperto, com uma pistola apontada para a cabeça, eles vão torcer de todo coração que a bondade, a justiça e a solidariedade prevaleçam. Ou seja, deixam de amar o bandido e passam a choramingar pela polícia; o herói da trama real, no caso.



A Garota Esquilo, que deveria ser apenas uma heroína classe "B", acabou se tornando um factor de correção de aberrações. É por isso que ela consegue vencer praticamente qualquer vilão, mesmo os que dão pau nos deuses da Marvel. Ela impede, por assim dizer, que a Marvel se destrua dando glamour aos bandidos e azedando os heróis. Como se alguns roteiristas dissessem a si mesmos "Ufa, ainda bem que eu não tenho poderes para fazer essa m&$#*@ na vida real!", ainda que depois façam longos e enfadonhos discursos contra uma "garota estúpida que vence o poderoso Thanos", a quem fica feliz de jamais encontrar na vida real.


O facto de ela ser baby sitter, ou seja, cuidar de crianças pequenas, lhes causa ainda mais repulsa. Psicologicamente falando, uma criança pequena representa uma esperança de alguém vir a fazer menos besteiras no mundo, ou pelo menos cometer erros novos, não os mesmos que têm sido cometido ao longo dos milênios. Comandar esquilos? Quer maior símbolo de fofura e simpatia do que um esquilo peludo e bem cuidado? Tudo isso é muito saudável, muito constructivo, precisa ser taxado de alienação, viadagem, infantilismo e o que mais se conseguir inventar para detratar.

O problema, no final das contas, não são os heróis, somos nós, que não conseguimos ver a felicidade alheia como uma extensão da nossa, e a nossa própria como algo desejável. A humanidade inteira está contaminada por uma síndrome de auto destruição, a ponto de rejeitar sumariamente qualquer medida que possa recolocar sua cabeça em ordem. Ela quer que um tirano invencível apareça e force todos a fazerem o que todos sabem que podem e devem fazer, ma se recusa a fazer isso por conta própria. A história já nos mostrou muitas vezes no que isso dá.


Por isso nossa jovem e meiga amiga, que poderia ser minha filha, ganhou tamanha importância, e um séquito de fãs indemovíveis. Ela é um absurdo, sim, mas um absurdo meigo, escultural e de rostinho lindo, que vive para corrigir absurdos muito piores. E sejamos francos, é uma moça exemplar, adorável, uma filha que qualquer um gostaria de ter.

Mais detalhes sobre Doreen Green, clicar aqui.

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