sexta-feira, 12 de julho de 2013

To Bee Gees


A vida é uma festa, mas só quem arruma a bagunça e paga a conta, é que sabe dos dissabores que toda aquela alegria esconde. A festa começou em 1946, com o mundo começando a acordar para os prejuízos da insanidade do Eixo.

Isto pode ser considerado uma síntese da vida dos três irmãos. Não que não tenham sido felizes, eles sabem fazer boas limonadas, e ganhar dinheiro com elas.

Barry e os gêmeos Robin e Maurice, apesar de terem crescido em Brisbane, Queensland, na Austrália, são ingleses da Ilha de Man. Passaram tão pouco tempo por lá, que se identificam mais com os estereótipos australianos do que com os ingleses.

Colecionadores de recordes, prêmios e hóspedes habituais dos primeiros lugares das paradas de sucesso, iniciaram oficialmente sua carreira em 1966, um ano que particularmente me encanta, não só por causa deles. Mas iniciar no mundo da música, eles iniciaram em 1957, outro ano mítico, que tem o Chevrolet Bel Air como seu mascote.

Mas não comecemos do meio.

 

Eles tocaram de tudo, tudo mesmo... Quer dizer, só não tocaram música ruim. Também não se viram livres do deslumbramento, nos anos setenta, quando estavam decolando, começaram a brigar e quase foram à bancarrota, até que tomaram vergonha e se deram conta de uma coisa, eles eram irmãos. Se se separassem, continuariam sendo irmãos e seus pais continuariam amargurados com a briga.

Sabe aquela chantagenzinha básica? Funciona. Eles se reuniram, ainda se olhando meio torto, mas fizeram o dever de casa. Trocaram a psicodelia por ritmos dançantes, baladas românticas, uma identidade mais irreverente que é a cara deles, e retomaram a trilha do sucesso. Não doeu tanto, né?

Além do mais, os pais eram músicos, Hugh Gibb e Barbara Pass não negaram amparo aos filhos, os cinco, assim como não negaram puxões de orelhas, quando brigavam. Eles não demoraram a perceber o talento que tinham em casa. Já em 1956, ainda morando na Inglaterra, Barry ganhou sua primeira guitarra, Maurice e Robin começaram a acompanhar no vocal e pronto, a encrenca estava formada. Em 1958, Bárbara teve mais um e disse "CHEGA"!!! Estava formada a turminha em casa: Lesley, Barry, Maurice, Robin e Andrew. Este seguiu carreira solo, também na música.

Eles estudaram, não tiveram vida mansa. Se mudaram para Surfers Paradise, no litoral, onde começaram se apresentando em casas noturnas, uma experiência que recomendo a todos os músicos iniciantes. Em 1962 veio a chance, que não desperdiçaram, pela empresa de Kevin Jacobsen. Foi também o primeiro contracto profissional dos irmãos. Spicks and Specks foi o primeiro sucesso.

Voltaram à Inglaterra entusiasmados com o sucesso dos Beatles, em 1967, de navio, pagando a passagem com música. Ou seja, foram ensaiando, comendo e dormindo de graça. Lá, Hugh não deixou por menos, mandou o materioal dos filhos para a mesma editora dos Beatles, a NEWS. Não fosse o australiano Robert Stigwood ter notado um conteúdo australiano naquela pilha gigantesca de material, talvez tivessem que voltar com o rabinho entre as pernas para a Austrália.


 
A banda, como uma estrutura profissional e empresarial, não só com os três garotos de Douglas, logo se tornou necessária. Chamaram gente de sua confiança, é claro. Também tiveram a malandragem de lançar o primeiro álbum New York Mining Disaster 1941", com crédito de artista para "Be... es", um golpe que fisgou os fãs dos Beatles e acertou em cheio. Bee Gees já se estabelecera como uma banda reconhecida. Mas foi Massachusetts que os lançou ao estrelato. Chegaram em álbum ao Brasil em 1968.

Como a cultura vintage ainda não estava estabelecida, o jeito de rock sessentista de suas músicas começou a cansar. Main Course, de 1975, recebeu o padrão de qualidade pelo qual os irmãos ficaram conhecidos. Fica fácil para vocês perceberem que, se não tivessem se reconciliado, não teriam conseguido se reerguer e o Bee Gees teria mesmo caído no esquecimento? São ingleses, mas são bons carcamanos musicais.

 

O sentimento à flor da pele, mesmo nas canções dançantes, sempre os acompanhou, como "I Wish You Here", "My World" e "I Started Joke". A dor de um amor perdido e a morte são recorrentes, em suas obras. O marco de "Os Embalos de Sábado à Noite" os associou perenemente à febre da discoteca, da qual se tornaram sinônimo. E claro que veio uma enxurrada de imitadores, a maioria absoluta hoje, desfruta de um merecido e abençoado esquecimento.

Como todo e qualquer artista, eles tiveram altos e baixos. Mas bastava uma pausa, um disco a menos vendido, um dia a menos nos jornais, e a crítica os atacava com malévolo fervor, taxando-os de cantores e compositores medíocres... Oh, Pai, perdoai-vos, porque eu não o consigo!

Os anos oitenta foram um hiato. projectos próprios, actividades solo, entre outros. Os artistas passaram a também agenciar gente nova, diversificar seus negócios para não ficarem reféns das oscilações e incertezas do sucesso artístico. Funcionou muito bem, embora tenha parecido que o grupo havia terminado. Na realidade, estavam cuidando de si e da família, coisa que a vida insana de shows intermináveis e aparições contractuais não permite. Sabem o que é isso? Ter vida própria? Pois muitos artistas não sabem.

Voltaram com força em 1991, para a alegria dos fãs que sempre os amaram, e dos novatos que quando os conheceram, também sempre os amaram. A cultura vintage começara a florescer e sucessos antigos voltaram, a vender bem, alguns mais do que os novos. Com a lição da quase falência aprendida, eles sempre renovaram seu repertório, e desta vez não foi diferente, só que em vez de seguir, eles ditavam a moda, para quem gosta de música, é claro. Keppel Road é o documentário sobre a banda e os irmãos, lançado em 1997.

 

O grupo era tão coeso e feliz, que só a morte poderia acabar com ele... E ela o fez. No dia do aniversário de Leslie, em 12 de Janeiro de 2003, Maurice morre, em decorrência de complicações de uma cirurgia cardíaca. Ele era o mediador ente os gêmeos, que desnorteados, anunciaram o fim do Bee Gees, ao menos como um grupo oficial, por assim dizer. Acabou em um de seus muitos auges.

Barry e Robin trabalharam em carreiras solo, até 2006. Antes disso, em 2004, receberam o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Manchester, e a Comenda de Cavaleiros do Império Britânico. Preciso dizer que a crítica ranheta e mal amada mastigou os próprios dentes, de raiva? Não, né? Olha só, eu sou doutor, cavaleiro, milionário, ídolo, bem amado, profissional respeitado e tenho uma família feliz. Você é quem mesmo?

Em 2009 os irmãos voltavam ao palco, sem conseguir disfarçar o vácuo que Maurice deixou. mas não deixaram a peteca cair e continuaram trabalhando. Em 2012, infelizmente, o vocal de "Started a Joke" se tornou personagem da música, Robin faleceu, em decorrência de uma pneumonia que corroborou com o câncer de cólon que enfrentava há muitos anos. Após finalmente a crítica ter dado o braço a torcer.

 

Hoje a banda é mantida e regida por Barry, solitário, tocando os corações em sua alegria triste e usando o trabalho como contrapeso ao seu luto. O Bee Gees continua na activa, com compromissos e um legado para dar conta, só não dá para fingir que é a mesma coisa sem eles. Porque no fundo, a cada vez que sobe ao palco, tudo o que Barry queria é que eles estivessem aqui.



Website oficial do Bee Gees, clicar aqui.
O perfil deles no Facebook, clicar aqui.
Querem mais? Então cliquem aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

0 comentários: