terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Novo Star Trek, mais fundo nos temores humanos

Fonte: http://cinemacoma.com/the-star-trek-into-darkness-teaser-trailer-is-awesome/

O que Star Trek tem a ver com natal? Tudo. Foi a série que, pela primeira vez, colocou alienígenas, orientais e mulheres, inclusive uma belíssima negra, no pelotão de elite do elenco fixo.

Jornada nas Estrelas trata de uma Terra em que os povos já desbastaram suas diferenças, em que a ONU passa a existir de facto, e não apenas como marionete de potências, inclusive ditaduras sangrentas.

Os militares, então, sem serviço no planeta, passam a proteger o espaço ao seu redor, inclusive preventivamente, agindo em missões diplomáticas aonde a humanidade ainda não chegou, oferecendo cooperação pacífica a todos os planetas habitados que encontram.

Recentemente, voltaram a fazer longas da franquia, que valem à pena e merecem o fardo de ser Star Trek. Não que as últimas séries não tenham sido boas, mas muitos episódios começaram a ficar longe do carisma e da qualidade artística que arregimentou fãs pelo mundo, e deu origem ao movimento cosplay.

Agora, indo mais fundo na philosophia de auto superação e esperança, mais natalino do que isso é quase impossível, está previsto para 26 de Julho de 2013, no Brasil, o longa "Star Trek in the Darkness", com título nacional "Star Trek - Além da Escuridão. Um bom exemplo de como o título nacional pode ficar melhor do que o original... Alguns vão entrar na sala pensando que é uma estréia surpresa de Batman, inclusive pelo cartaz promocional.

Antes que alguém se empolgue com um filme fatalista, pessimista e batmaníaco, vou logo repassando o recado do director JJ Abrams: "Eu não gosto de ir para o cinema para me sentir mal. Eu não gosto de ir ao cinema para me sentir deprimido e diminuído. O motivo pelo qual você vai ao cinema é para se sentir maior, mais forte e mais feliz. Esse é um filme que, certamente, vai para além da escuridão. Mas eu seria o diretor errado se deixasse os personagens por lá".

Algo nós dois temos em comum. O mundo real já é duro e pessimista na medida certa, não preciso pagar dez pilas para sair do cinema com vontade de cortar os pulsos. Também por isso não gosto de filmes de zumbís.

O vilão, vivido por Benedict Cumberbatch, é o terrorista Johnn Harisson, que o actor descreve como uma mistura macabra de Coringa com Hannibal. Se tiver um quarto da inteligência e do carisma de cada um, será um vilão épico. É um cara "comum" que surta contra o seu emprego e dá trabalho para a tripulação da Enterprise. Simplificando a história, é claro. Ele consegue não só destruir a frota estrelar, como levar o então pacífico e próspero mundo inteiro, a uma crise profunda, que justifica o título.

Com o mundo indefeso, a Enterprise é chamada de volta, para dar conta do recado. Só que o vilão está dentro da organização, ele conhece tudo, todas as rotinas, todos os protocolos, todos os acessos, algo que nenhum outro funcionário talvez saiba. É assim que ele se torna tão perigoso.

Com isso, a tripulação bebe na fonte, tendo seus integrantes expostos pessoalmente ao perigo. Não estou falando de o Capitão Kirk estar defronte ao inimigo, falo de o James Kirk estar na mira dele. É pessoal, Harisson quer ver todo mundo morto. De preferência, com humilhação.

Algo de muito bom, em que a série original falhava, certamente pelo extremo interesse da época no espaço desconhecido,  é a inclusão da Terra de então nos novos filmes. Nos anos sessenta, não dava para se fazer muito, além de filmar em cenários e nos desertos. Hoje, com um universo inteiro podendo ser gerado por computador, e os paradigmas tecnológicos da primeira série deixados para trás, os roteiristas podem delirar à vontade. Imaginem se a série original, tivesse tido acesso a tamanha capacidade técnica!

Aos marmanjos de plantão, os mini vestidos curtinhos continuam, a onda do politicamente patético não atravessou o escudo de proteção da nave, mas como no original, a barra não sobe.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Villa-Lobos, o clássico do Brasil

Fonte da imagem: /http:/vejasp.abril.com.br/materia/heitor-villa-lobos-125-anos

Noêmia queria que ele fosse médico. O incentivou aos estudos o quanto pôde, mas ele preferiu se render aos dotes líricos de Raul. Não se pode dizer que foi um desgosto, afinal ele tornou-se um marco da música mundial. Raul era compositor amador e funcionário da Biblioteca Nacional, ou seja, pelo menos estudar muito foi uma vontade muito bem feira à Noêmia.

Heitor Villa-Lobos, filho de Noêmia Monteiro Villa-Lobos e Raul Villa-Lobos, despencou por aqui em cinco de Março de 1887, voltou lá para cima em dezessete de Novembro de 1959.

De 1905 a 1912, conheceu Norte e Nordeste do país. Quem leu "Triste Fim de Policarpo Quaresma", sabe da paúra que os brasileiros tinham de conhecer o interior do país, ainda mais em uma época em que viajar, significava ficar muito tempo fora. Não é como hoje, hoje podemos ir e voltar de um extremo ao outro em um dia, de avião. Com tanto tempo disponível, quisesse ele ou não, descobriu um mundo completamente novo, uma avalanche de pedras perciosas, onde o vulgo alienado só vê cascalho. Era um gênio, conseguiu ver o óbvio.

Foi em 1915 seu primeiro concerto, mas a crítica considerou suas obras modernas demais, em vez de reconhecer o próprio provincianismo. Sua insistência tenaz o impeliu a continuar tentando, no já existente eixo Rio-São Paulo, até vencer pelo cansaço o ranço reinanrte. Chegou a se apresentar em Buenos Aires, em 1919, que na época era um laboratório para o refinado público europeu.

Não sei o que vocês vêem no colégio, hoje, mas no segundo grau ele foi matéria de prova. Villa-Lobos revolucionou por romper o cordão umbilical que os músicos tinham, até então, com a Europa. Enxertou aquelas canções populares, indígenas, os aspectos folclóricos e muito patriotismo em suas composições. Não por acaso, foi o músico-símbolo da Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. Serestas, choros, estudos para violão, ciranda de piano... Os anos vinte lhe deram sua explosão de criatividade, sempre enfatizando o Brasil.

Em uma ocasião, ele foi reger com um pé de sapato e o outro de chinelo. A crítica teceu longos comentários especulativos, achando aquilo ultra hiper, escafalobeticamente moderno... Mas era só o dedão machucado mesmo.

Entretanto, ele não foi um rebelde radical, só quis que seu país tivesse seu próprio cabedal, de modo relevante, e conseguiu com louvor. Foi em 1914, início da Primeira Guerra Mundial, que descobriu seu estilo próprio, passando a rejeitar a ditadura euromusical vigente. A obra é "Danças características Africanas". Depois se firmou com "Amazônia" e "Uirapuru", em 1917, chegando aos anos loucos dono de seu estilo. Mas "Bachianas Brasileiras", um neobarroco, é que o tornou um maestro entre os maestros.


Foi à Europa em 1923, porque ainda era o centro do mundo, voltando em 1924, depois de novo em 1927, com a esposa Lucilia, desta vez com o patrocínio o magnata Carlos Guinle, em uma turnê. O apoio da soprano Vera Janacópulus e do pianista Arthur Rubisntein, facilitou sua apresentação ao meio artístico, e a reduzir a desconfiança da crítica.Voltou em 1930, com a crise das bolsas no auge. Nesta década, termina seu primeiro casamento.

Um feito épico foi a "Exortação Cívica", que teve um coral com doze mil vozes... Se vocês nunca tentaram reger um coral, por pequeno que seja, não podem imaginar o tamanho desta obra hercúlea. Em 1932, já dirigia a Superintendência de Educação Musical e Artística. Getúlio Vargas, que podia ter todos os defeitos do mundo, mas queria ver o país no primeiro mundo, tornou obrigatório o ensino de música nas escolas. Villa-Lobos passou então, a focar o ensino musical em suas obras.

Vargas gostava dele. Seu amor à pátria calçava bem com as pretensões do Estado Novo (de mentalidade velha) de Getúlio. Pelo menos para a cultura, Vargas foi um dos maores brasileiros de todos os tempos, porque foi quando o folclore nacional conseguiu sair do armário, capitaneado pela batuta de Villa-Lobos. Seu "Canto Orfeônico" resultou no "Gua Prático", que trata de temas populares harmonizados, prontos para uso de músicos profissionais.

Veio mais uma guerra e os americanos viam a simpatia sulista pelo regime nazista. Tratou de cortar o mal pela raíz e mandar o mundo artístico fazer uma propaganda melhor do que a hitleriana. Funcionou, como sabemos. Roosevelt mandou Leopold Stokowski e a The American Youth Orchestra para fazer as honras da casa. Stokowski pediu a Villa-Lobos uma seleção dos melhores músicos e sambistas, para gravar a coleção "Brazilian Native Music".

O time escalado foi de primeira: Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola e companhia limitada. Foi este o samba que os americanos conheceram, muitíssimo diferente do que expelimos hoje.

De 1944 a 1945, com a guerra já no papo, regeu e foi homenageado em Boston e  Nova Iorque. Notaram aqui o fio da meada? Os americanos, e o resto do mundo, tiveram o que havia de melhor em música brasileira. Foi esta gente, ainda que sob os filtros da mídia ianque, que fez nossa cultura ser admirada lá fora, foram décadas de trabalho árduo, de pressão bélica e tudo mais. De volta, ele fundou a Academia Brasileira de Música.

Operou de um câncer em 1948, se casando logo em seguida com uma ex-aluna, Arminda. Um consórcio de onze anos. Compôs ainda "Floresta da Amazônia" par a Metro Goldwin Mayer. Ele praticamente morava nos Estados Unidos, nos dois últimos anos de vida.

Fumante inveterado, não foi perdoado pela idade, sua saúde decaiu rapidamente até o desenlace.

Villa-Lobos foi parte de um Brasil que tentou dar certo, que fez de tudo para dar ao cidadão comum, as ferramentas para sair sozinho das trevas em que se encontrava. Hoje, nas escolas públicas e quase todas as particulares, não se aprende caligraphia, nem philosophia, nem música, nem a ser gente. Quem, hoje, se lembra quem foi Heitor Villa-Lobos?



Mais Villa-Lobos, clicar aqui, aqui e aqui.
Website dedicado ao gênio, em inglês, clicar aqui.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Doutora Talicoisa


Atenção, talicoiser e taleitores, temos uma notícia urgente, urbicho e urplanta!

A nossa barachiana professora Fräu Adriane Schroeder, foi aprovada na defesa de seu doutorado. Sim, meus queridos, agora ela é Doutora Talicoiser Adriane Schroeder.

Não é como o doutorado fajuto de dotô deputado, dotô delergado ou dotô mobral. Não, meus caros, ela é doutora por mérito e justiça. Ao contrário dos citados, ela passou anos de sua preciosa vida, debruçada em livros, gastando os tubos com publicações, photocópias, pesquisas e o escambau à quatro.

Imagino agora, ela, ao se deparar com um fugitivo do mobral a se declarar "doutor", se apresentar como doutora, falar de sua tese e perguntar qual a do cidadão. Geralmente essa gente nem sabe o que é uma tese, nem em qual lanchonete tem para servir.

Como doutora de facto e direito, ela tem um arcabouço para se embasar. Não tentem constrangê-la com seus mitos, crenças e folclores. Ela não conseguiu chegar aonde está, com "eu acho que pra mim na minha opinião", não, meus amigos, ela é DOUTORA. Ela não tem recortes de revistas, ela tem provas documentais registradas, carimbadas, rotuladas, pra poder voar.

Ela te esfrega na fronte as tuas falhas, derruba toda a tua argumentação baseada em "porque assim está escrito" ou "não é o usual na região". Claro que há as antas bípedes que não entendem nem como se cai para baixo, quando na verdade não se cai para baixo, mas para o centro de gravidade, que continuarão a tagarelar doentiamente, acreditando ter a nota fiscal da razão em sua posse. Com estas, ela não gasta seu latim, prefere gastar seu sarcasmo cruel e impiedoso.

Nossa prezadíssima co-blogueira voltou, como já perceberam, a participar deste modesto espaço, neste ano, com dois singelos textos. Com tempo para respirar, concluída esta árdua etapa de sua rica vida, poderemos contar com mais contribuições, mesmo que de vez em quando, com a ajuda do professor Carvalho, é claro.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

As verdadeiras histórias de Papai Noel


Foi muito comum, até fins dos anos noventa, exibirem durante todo o mês de Dezembro, filmes novos e reprizados com temática natalina, quase sempre com o mesmo título: A verdadeira história de Papai Noel. Não que os títulos forrem realmente todos iguais, mas a preguiça reinante nos setores de tradução, fazia que com que as versões brasileiras o fossem. Era tanto filme ou animação diferente, com o mesmíssimo título, que as crianças devem ter oscilado entre o ceticismo completo, e uma tremenda crise de existencial... Isso me lembrou Matrix... É, pode ter sido isso.

Os argumentos eram diversificados. Os mais comuns, eram de um Nikolau que fabricava brinquedos na floresta, para distribuir às crianças pobres. Com o tempo, o número de crianças atendidas, e a idade de Nikolau, cresciam, e ele já sentia dificuldades para andar na espessa camada de neve, sob um frio de rachar e com um saco de presentes cada vez mais pesado. O mongo levou anos para perceber que precisava de um veículo. Naquela época a Kombi ainda não existia, então ele optou por um trenó. Como cavalos não suportariam o frio, optou por renas, como moto-veículos de tração.

A capacidade de as renas voarem, tinha explicações tão sortidas quanto. A mais recorrente rea por magia... Na verdade, a mais recorrente mais parecia milagre mesmo. A maior parte era por aspersão de pó mágico, que mal tocada a pelagem das renas, sem nem penetrar nela, e elas já saiam voando por aí. O que não explicavam, é como o trenó se comportava como se fosse uma última rena da fileira, em vez de voar pendurado, deixando cair tudo pelo caminho.

Houve também os que representavam Nikolau como um subversivo fora-de-lei, em terras onde a caridade e os brinquedos eram proibidos. Ele já foi até preso. Bem, aqui há uma certa lição que foi mal aplicada, sobre abuso de autoridade e de como um político estúpido, consegue estragar tudo com uma canetada só.

Bizarras, e que ainda hoje têm quem produza, ainda que em muito menor quantidade, são os filmes de comediantes que tentam ajudar Papai Noel... Como "Ernest Salva o Natal"... Dá vontade de chorar, com aquelas piadas.

Mais amena, mas que também começou a ficar muito batida, foi a longeva moda de fazer personagens de desenhos, ajudarem Papai Noel. Teve de tudo. Desde a turma do Zé Colméia, até os Smurfs. Nem os Flintstones escaparam. Pelo menos eram menos pretensiosos do que os filmes com comediantes.

Não que eu seja contra filmes de Papai Noel na época do natal, longe de mim. O problema é que a falta de criatividade e bons roteiros, começou rapidamente a ficar evidente. Mas houve alguns que cativaram pela história bem cuidada, pela beleza photográphica e pela preservação de uma certa ingenuidade, sem cair na idiotice. É o caso de uma animação em stop-motion de 1970, narrada e cantada pelo grandioso Fred Astaire, com o título de... "A Verdadeira História de Papai Noel".

Eu poderia contar o filme, mas é melhor vocês mesmos o assistirem, vale à pena.