segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A vitória do pássaro biruta!

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Pois é, minha gente, o passarinho demente criado por Walter Lantz (aqui) fez mais uma vítima. O Pica-Pau passou a Xuxa no ibope. Mais aqui, um blog dedicado ao passarino aqui e aqui.

Surpresa nenhuma, era só qustão de tempo até a fórmula repetitiva, que deu certo até o fim dos anos oitenta para as crianças, sucumbir à fórmula atemporal de um dos arquétipos mais fortes da mídia moderna.

Mas O que tem um passarinho caricato, politicamente incorrecto, criado nos anos quarenta, para derrubar gente consagrada com reprises de décadas passadas?

Vamos deixar claro que o Pica-Pau nunca foi e ainda não é bonzinho, nem na insonsa versão para o século da neurose-sócio-hipersensitiva. Ele é tudo o que uma pessoa não deve ser... Ou quase tudo. Foi criado em 1940, em plena Segunda Guerra assolando a Europa, às portas de os americanos também pegarem em armas. Diz a lenda, que Lantz foi atormentado durante a lua-de-mel por um pica-pau da cabeça vermelha, exactamente como o personagem que criou depois. Talvez pela raiva passada, o primeiro modelo era tão grotesco quanto de caráter duvidoso, mas a intenção era justamente passar às crianças o que era errado, ridicularizando os defeitos humanos.

Para quem sabe discernir a vida real da ficção, e isto muitas crianças fazem melhor do que muitos adultos, fica fácil ver que o Pica-Pau satiriza as fraquezas humanas sendo mais humano do que o próprio homem. Com o tempo a parte psicótica foi sendo transferida para antagonistas como Leôncio, Zeca urubu e outros menores, mas jamais perdendo as lições bem humoradas de como não se deve portar. Os desenhos de hoje, pelo contrário, tratam a criança como demente, até na porca seqüência dos quadros de animação.

O Pica-Pau, pelo contrário, não tem vergonha de rir ou chorar em hora imprópria, de usar todos os meios disponíveis para defender sua casa, no oco de uma árvore, de descer o cacete no Zeca Urubu por Winnie, enfim, de ser mais autêntico e didático do que qualquer cafetão ranheta. Mas também não se furta o dever de dar bons exemplos e ser atencioso, como quando cuida dos sobrinhos Toquinho e Lasquita, que como os do Donald, ninguém sabe de quem são filhos. Seus episódios (da era Lantz) são ricos e passam longe da repetição, embora tenham temas sempre recorrentes, como a pobreza, em seus últimos episódios.

Como todos os desenhos animados, os primórdios do Pica-Pau foram no cinema, sendo apenas em 1957 sua estréia na televisão. Com o tempo o monstrinho com cara de fugitivo do hospício foi sendo suavizado para se tornar um demente socialmente apresentável, mas a queda da qualidade das piadas é bem recente. O estúdio de Lantz produziu o Pica-Pau até 1972, após 196 episódios, uma indicação para o Oscar para um curta-metragem (jamais repetido) e uma estrela na calçada da Fama. Reapareceu em "Uma cilada Para Roger Rabbit", que também relançou Betty Boop.

A Universal Animation Studios relançou o passarinho biruta em 1999 até 2003, com o mundo já assolado pela neurose do "Não fala mal das baratas que eu choro" hoje reinante. Recentemente (aqui) o Hollywood Reporter (aqui) anunciou que a Universal (aqui e aqui) está desenvolvendo um filme, com pessoas reais, para o Pica-Pau, apenas faltando encontrar um bom roteirista. A ideia é aproveitar um título que já lhe pertence para criar uma franquia nos moldes modernos... Na verdade a ideia é recorrer ao que já deu certo, porque as porcarias de hoje não fazem frente aos animes japoneses, que de politicamente correctos não têm absolutamente nada e fazem muito sucesso com pais e filhos, basta ver o ressurgimento dos heróis DC e Marvel. O único herói politicamente correcto que deu certo é o Super Homem, mas é uma receita que só deu certo para ele e para ninguém mais. Mas Kal-El é a personificação do adulto bem resolvido consigo e com o mundo, e só há espaço para um homem perfeito assim no mundo.

E ainda tem gente perguntando por que motivos esse passarinho psicótico tem, com reprises de várias épocas aleatoriamente exibidas, tirado o sono da Globo. Existe receita antiga e receita velha, a do Pica-Pau é antiga, as dos perdedores é velha. E façam o favor de não estragar um filme que tem tudo para fazer uma economia inteira girar freneticamente.

Mais vídeos dublados aqui e em inglês aqui.

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