quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Zé Colméia vem aí, lará-la-la-la

É a pura verdade, Tali-maníacos. Por fontes securíssimas, por inrtermédio dos amigos do Alcatéia (clique aqui, nenê), descobrimos que finalmente teremos um filme do Zé Colméia. E em 3D! Deverá estrear em Fevereiro (se nada der errado) no Brasil, lá estreará para o natal.
Para quem não conhece, nunca viu um desenho animado de verdade e acha que desenho deve ter homens musculosos em enredos ridículos, com piadas fracas e finais previsíveis, Zé Colméia nasceu no início dos anos sessenta. É um urso metido a esperto que rouba a comida dos visitantes do parque Yellowstone, e tem um amiguinho chamado Catatau, também um urso e costuma ter os mesmos problemas com o "L" que o Cebolinha. De olho no meliante peludo, há o guarda florestal que teve vários nomes ao longo dos tempos, no Brasil, um deles é Chico. Invariavelmente o coitado se lasca bonitinho com o Zé.
Rezemos para que aqueles dois da dupla (Os caras de Pau) da Globo estejam com a agenda muito cheia para dublar os ursos, porque perderiam dois terços da graça.
Também prometem uma versão 3D para Guerra nas Estrelas, algo que os fãs tomarão por heresia, mas para o que vão para a fila do cinema do mesmo jeito, ahá, eu conheço vocês, são mais fanáticos do que os trekkies. O link é o mesmo acima.
A seguir, o trailer do filme Yogi Bear, o nome original do Zé Colméia em inglês..



E aqui um desenho antigo:


P.S: Este artigo é exclusivo do Talicoisa.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Le Petit Glou-Glou


Na porpaganda...
Nossa instituição é da mais alta estirpe. Aqui o seu filho terá um ambiente organizado, bem aparelhado, com uma completa equipe psicopedagógica altamente qualificada para atendê-lo. Dispomos de um amplo pátio e a companhia dos melhores sobrenomes de Brasília.
Nossa linha pedagógica permite ao aluno um aprendizado amplo e profundo, preparando-o para o mundo sem os traumas desnecessários que acomete a infância de hoje. Traga seu filho para o Le Petit Glou-Glou, ele não vai querer saber de férias.
Tudo isto porque nós temos um jeito doferente de ensinar, com carinho e rigor, para que a criança se torne um adulto saudável e socialmente aceitável. O que estão esperando? Trataremos seu filho como se fosse nosso... Vassalo.
Inteiramente grátis, vocês levam para casa o livro "Minha Luta" de "Adolfo, O Incomprendido", com belas ilustrações e passagens explicativas das expressões em alemão, para irem se acostumando às nossas idéias e à noção da sociedade que queremos para nosso país.

Na entrevista...
Temos um nome a zelar. Os filhos dos mais eminentes políticos e juízes estudam aqui, é uma escola de gente superior e não podemos admitir um comportamento fora dos padrões. Nossos dois mil setecentos e sessenta e oito uniformes, um para cada ocasião, e pagos à parte, devem estar sempre impecáveis, abotoados até o queixo e com aspecto de novo, embora provavelmente nem dez por cento deles sejam utilizados. No fim do ano serão cremados em acto solene e novos deverão ser adquiridos para a série seguinte. Abriremos um precedente para o seu filho, já que precisa usar essas botas ortopédicas raras, ultracaras e feitas sob medida sem opção de cor ou modelo, mas mediante pagamento de taxa para nos guarnecer caso um vulto da alta sociedade brasiliense note a diferença. Compreenda que temos o nome do colégio a zelar, é o Le Petit Glou-Glou, é a nata da sociedade brasiliense, é o mais próximo do primeiro mundo que se pode ter no Brasil.

Ao ter que dar satisfações, após ameaças de morte...
Bem, sim. Nós deixamos seu filho de fora da excursão, apesar de sabermos que ele só pode usar essas botas e serem o único ítem que não consta no uniforme de gala número quatrocentos e três, que é quente, desconfortável e altamente impróprio para o nosso clima. Mas aceite que agimos certo em impôr uma humilhação desnecessária, obrigando-o a ver o ônibus indo embora com seus coleguinhas, debaixo de sol, e depois ficar preso na sala de castigos, sendo ultrajado pela nossa competente psicopedagoga, sob olhares impotentes de nossa psicóloga. Um dia ele vai nos agradecer por esta lição de disciplina, você verá como será um cidadão útil. Sabe aqueles anjinhos que queimaram aquele selvagem no ponto de ônibus? Aprenderam conosco. Nós ensinamos que normas fúteis e protocolos supérfulos valem mais do que as pessoas. Os choros compulsivos e de claro sofrimento foram uma lição que ele levará pelo resto da vida, e vocês também, afinal o filho é o meio mais eficiente de atingir os pais.

Na reunião de pais, à qual os reclamantes não foram chamados...
É inadmissível que uma mãe desocupada venha nos atrapalhar. E para quê? Para discutir bobagens! Por causa de um chorinho à toa, que durou uma ou duas horas, uma tarde talvez. Mas isto não importa. Importa que vocês, pais e mães, devem confiar cegamente nas normas organizacionais feudalísticas do Le Pettit Glou-Glou. Nós somos infalíveis, nós sabemos o que é melhor para seus filhos. Se os meus tivessem sobrevivido, hoje me agradeceriam pelos castigos que receberam, sei do que estou falando. Nós sabemos como diferenciá-los do vulgo comum, da gentinha vulgar que é obrigada a sustentar nossa maravilhosa elite. Sob a nossa supervisão, seus filhos têm tudo para comandarem este país, para deixar tudo como está. Sem nós eles não são nada. Então estejam avisados, nos obedeçam.

Nota à imprensa, que soube do escabro...
Nós somos uma entidade com plena liberdade de escolha pedagógica. Visamos a boa formação de nossos alunos, que levarão nosso nome à Rainha da Inglaterra. Claro que fiscais já estiveram aqui e nos notificaram, mas os deputados livraram nossas caras; não publiquem esta parte ou terão problemas. A pessoa que lhes fez queixa é uma mal educada, não baixou a cabeça para podermos cuspir nela, e tudo de que não precisamos é de mães mal educadas. Cobramos os olhos da cara e por isto temos o direito de chamar torturas psicológicas medievais de pedagogia, ainda que não ofereçam nenhum benefício pedagógico. Nossa psicóloga acompanhou a sessão de tortura, sim, mas ele ganha aqui dez vezes o que a rede pública paga às imbecís sentimentalóides, que preferem honrar a profissão, então ficou calada. Nós somos o Le Petit Glou-Glou, temos um nome, uma hierarquia social, um nível de elite, we are the champions. é um nome francês, não esses nominhos brasileiros que fedem até na tela do computador. Marista... Rá, rá, rá... Nome sem pompa.
Agora parem de encher o saco ou cortamos a propaganda de página central inteira.
Sem mais para o momento, nos colocamos à disposição para esclarecimentos;
Sra, dra, deusa Dona Ogra.

Entrevista à imprensa, de óculos escuros, máscara cirúrgica e maquiagem pesada, depois que a avó alemã, heroína de guerra, despencou de Berlim e deu pau em todos numa surra só, inclusive no segurança que foi socorrer a equipe...
Caros repórteres, estou com conjuntivite, gripe suína e sensibilidade cutânea, o que impede que vocês cheguem muito perto. E por favor, nada de zoom.
Nossa equipe chegou à conclusão que tudo não passou de um equívoco. Foram tomadas as devidas providências para que a normalidade volte ao nosso renomado e nobilíssimo Le Petit Glou-Glou. Então, assim sendo, queremos deixar nossos protestos de boa sorte ao querido aluno que, por força maior, migra para uma renomada instituição em Goiânia. Sentiremos saudades do menininho aleijado que usava botinas ridículas, que era alvo fácil de nossos escárnios e da ira de nossas pedabobas, que descontavam nele a raiva que passam em casa. Pena que não se adaptou às nossas técnicas de vassalagem, mas o que esperar de um aleijado?

A avó alemã fica por alguns meses, até ter certeza de que a mentalidade que combateu, ao lado de sua finada mãe, não prejudicou o neto. Alerta à filha e ao genro para que tomem cuidado com quem se intitula "A Sociedade" e julga ter a verdade em suas mãos. A mentalidade medievalesca que originou o nazismo, reitera, se esconde sob as boas intenções e é falsamente chamada de "disciplina" por aqueles que sentem prazer em exercer poder sobre o outro. Na Alemanha, onde esta erva daninha germinou, seus seguidores são tudo, menos gente boa da sociedade. Antes de ir, avisa que se acontecer de novo, não sabe e não se importa como, mas levará o garoto consigo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Escola da ficção: Especial animais.

O aprendizado que vem da ficção realmente parece não ter fim. Hoje, vou fazer um apanhado de uma das coisas que quase sempre me pegam: filmes sobre bichos, porque eu amo animais, sou doida por eles, e fico com QI emocional de criança de cinco anos de idade diante de bichos e, principalmente, de filhotes.

Sou do tipo que cai no conto do filme-sobre-bichos com uma facilidade impressionante, e mesmo umas lágrimas brotam de vez em quando. É, eu sei, isso não é nada honroso, mas né? É eu ver um animalzinho na minha frente que já faço um "awnnnnnn" incontrolável.

Então, vamos ver o que nos ensinam esses maravilhoso compêndios do comportamento animal e de conhecimento sobre a natureza dos seres.

1. Todo animal de filme é mais inteligente que todos os vilões juntos. E que os mocinhos também.

2. A monogamia e o amor pelos filhotes existe, em todas as espécies. Todo bicho comemora quando sua parceira tem filhotes.

3. Macacos, cães e qualquer outro animal que o filme queria destacar não só são excelentes esportistas como batem qualquer atleta profissional em qualquer jogo. E são aceitos em qualquer time, em qualquer liga, porque as regras nunca proibem um animal de competir junto aos humanos.

4. Os animais compreendem com perfeição tudo que os humanos falam e pensam, e sabem o que é melhor para eles.

5. Cães que se perdem sempre acham o caminho de volta. E isso já aconteceu na vida real (mesmo).

6. Bichos que herdam fortunas são sempre bacanas, amados pelos empregados (menos os bandidos, é claro) e usam a bondade e a justiça na administração dos bens do falecido dono.

7. Ninguém se livra de animais, a não ser os bandidos. Mesmo que esses animais ponham a vida do dono de cabeça para baixo e sejam fontes intermináveis de despesas (isso seria realmente louvável).

8. Qualquer animal é capaz de montar uma armadilha complexa para pegar o bandido.


9. Convidar animais para comer à mesa é a coisa mais normal do mundo.

10. Um papagaio não penas pode falar de verdade: pode ensinar uma criança a falar corretamente. E até mesmo as aves reconhecem qual é o melhor parceiro para um ser humano.

Mesmo assim, eu continuo amando a maior parte desses filmes-de-bicho.

Na vida real, os animais com certeza tem muito mais a nos ensinar. Mas aí já é outra história.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crianças quimiocontroladas

O ramo de medicamentos controlados é lucrativo, muito lucrativo. Tão lucrativo que os fabricantes podem dar descontos e pagar comissões à vontade. Deve-se desconfiar daquele médico que terminou a residência em um Ford Ka modelo ovinho, e em pouco tempo está andando de Lincoln. Aliás, ainda fabrica baitas carrões.
Laboratórios financiam convenções, palestras e o escambáu à quatro. Isto não sai de graça. Essa gente não financia ninguém por caridade, por respeito ao juramento de Hipócrates, nem por causa dos lindos olhos castanhos daquele jovem tão dedicado. Eles querem retorno, e o retorno será sob a forma de prescrições nem sempre necessárias de drogas, muitas vezes drogas pesadas das quais seus fabricantes detêm as patentes. Drogas viciam.
Tendo a chancela da comunidade científica e o pleno aval dos conselhos, muitos não hesitam em prescrever uma tarja preta para qualquer probleminha, inclusive para controlar crianças que apenas se sentem incomodas com o que "ninguém vê".
Petizes muito activos ou agressivos ficam aparentemente mais calmos tomando medicamentos prescritos pelo médico, mas é uma ilusão perigosa. A torrente hormonal que dava o empurrão fica sob controle, mas a índole rebelde continua lá, esperando para agir. Se não for quebrando o espelho do aparador, será humilhando verbalmente alguém que não poderá se defender. Com o tempo essa válvula de escape se torna uma diversão, qualquer cousa pode apertar o gatilho. Nem adianta falar com aquele médico depois, nenhuma alteração hormonal será detectada e o safado lavará as mãos. Ele sabe (ah, sim, sabe) que o medicamento é um auxiliar no tratamento, jamais deveria ser utilizado como único recurso; muitas vezes sequer deveria ser prescrito. É como amputar uma perna dolorida e trocá-la por uma muleta, o indivíduo se vicia nela e não consegue mais viver sem. Muitos passam a usar a muleta para atrair a piedade alheia e depois atacar a vítima.
Para a família é muito cômodo. Enche-se o moleque de porcaria cientificamente aceita e finge-se que o problema foi resolvido. Acontece que droga é droga, não importa a origem. Aquilo que deixa a família relapsa tranqüila durante algum tempo, um dia chega ao limite e tudo o que estava sendo represado a custas de moléculas sintéticas explode. Um dia o "remédio" não fará mais efeito, então o charlatão diplomado receitará outra droga mais potente, geralmente mais cara e com mais efeitos colaterais; sempre há efeitos colaterais.
Um dia os efeitos colaterais geram problemas maiores do que os camuflados. De criança agressiva o sujeito se torna um adulto depressivo, ou com tendências psicóticas, ou ambos. Fora problemas com a concentração, dores no tubo digestivo, gases e outros que são camuflados com mais drogas, que causarão mais problemas, mas darão mais lucros. Drogas contra câncer, muitas vezes mais letais do que a metástase, estão entre as preferidas.
Esses médicos não querem saber do paciente, querem é eliminar os sintomas e assim ganhar mais pontos em seus currículos, mesmo que o paciente morra. Mais currículo, mais status, mais presentes e mais ganhos, não só financeiros. Dizem que os juízes pensam que são deuses, mas há médicos que têm certeza.
Problemas comportamentais devem ser tratados por quem entende do assunto. Quem conhece o neurônio não conhece necessariamente a personalidade. Meus neurônios funcionam do mesmo jeito que os de Barack Obama, mas meus métodos são muito mais enérgicos do que os dele, eu ajo de modo completamente diferente, pois sou alguém diferente e minha personalidade é totalmente diferente. As psicoterapias, sejam de psiquiatras ou psicólogos, são muito atacadas e detratadas porque limitam muito, e às vezes eliminam, a necessidade de medicamentos. Acontece que uma psicoterapia exige que a família participe, tome sua cota de responsabilidade nos progressos da criança, o que não interessa à maioria das pessoas. A maioria quer que tudo esteja pronto, bonitinho e no jeito para apresentar á sociedade e mostrar o quanto sabe educar sua prole. Querem receber a mercadoria pronta, nem pensar em se envolver.
Mas o que há de tão incômodo em participar de uma terapia? O incômodo é que, tratando dos problemas da criança, os dos pais (irmãos, tios, avós, bichos, a samambaia da varanda...) também aparecem. Não raro a família acaba descobrindo que o membro tido como problemático é o menor dos problemas, que o estava usando como bode expiatório, e que estavam todos viciados no problema da criança. Apontando o dedo para o cisco no olho do outro, não enxergam o galho que há nos seus. Quase ninguém quer admitir que falhou em algo. Todos querem ser perfeitos, quando nem bons nós conseguimos ser.
Não é raro uma família usar os problemas do outro para esquecer os seus. Quando ele usa drogas pesadas e elas fazem o efeito esperado, os efeitos colaterais tomam o lugar do problema, e a família passa de vítima do mau membro para comunidade caridosa, que acolhe o doente incurável. Se for criança, tanto melhor, dura mais tempo e a maioria dos parentes morre com a "consciência tranqüila". Depois o sujeito que se dane.
Um psicólogo competente (sem ser extraordinário) tem condições de dizer se o tratamento exigirá ou não medicação. Passando o caso para um psiquiatra competente (também sem precisar ser extraordinário) que poderá dizer qual medicação usar, por quanto tempo e em que doses, para intermediar o tratamento. Em uma terapia o paciente é o importante, não o sintoma. Não raro, mesmo psicoterapeutas ateus recomendam alguma actividade religiosa. eles não acreditam em Deus, mas sabem dos efeitos que a meditação proporciona, simplesmente aceitam os bons efeitos que ainda não podem ser explicados (para eles, claro) e seguem com o tratamento integral.
Os únicos médicos (sem especialização psiquiátrica) que entendem de personalidade são os médicos de família, que quase não existem mais. Diplomados em medicina que invadem o campo da psicoterapia, atropelando o juramento feito, freqüentemente incitam a uma inquisição contra tudo o que não foi comprovado por quem não tem o mínimo interesse em fazê-lo. Falei disto
neste texto aqui. Em oposição aos ateus que o são por convicção, são ateus por pura conveniência, ou fanáticos dogmáticos que enchem as burras de uma igreja e acham que isto os livra de qualquer pecado. Explico aqui a diferença entre dogma e religião.
Se a Anvisa (
ei-la) deixasse, os laboratórios fabricariam jujubas com os princípios sintéticos, para incentivar o consumo.
Pais, não sei se lhes contaram, mas crianças não são um mar de fofuras, não são cheirosinhas, não são comportadinhas; e graças à Deus que não o são. Querem fofuras? Encham a casa com bichos de pelúcia. Querem cheirinho? Abram uma franquia de perfumes. Querem comportamento? Encham a casa com bonecas. Crianças às vezes ficam fofas, às vezes se mantém cheirosas, às vezes cansam e se comportam um pouco. Criança é compromisso perpétuo. Assim como os seus pais ainda hoje apontam os dedos para seus narizes, seus filhos precisarão de vocês até o dia em que o geriatra disser "Sinto muito". Criança é responsabilidade, nada menos do que responsabilidade. Se não querem dores de cabeça, previnam-se, não procriem. Sim, Jesus ajuda a cuidar, mas só ajuda, a responsabilidade é todinha de vocês. Criança não é brinquedo que se troca por outro quando dá problemas. Quem não estiver disposto a corrigir uma criança e até aprender com ela, que permaneça na condição de tio.
Crianças precisam de limites, desde cedo, de modo firme e sem hesitações. Crianças precisam de carinho, desde cedo, do melhor modo que as circunstãncias permitirem e sem queixas. Crianças precisam de convivência, desde cedo, de modo natural e sem demonstrações de constrangimento. Eu sei que a maioria dos pais de hoje não teve metade disso. Muitas cousas boas de antigamente foram enfiadas no mesmo saco que as ruins,
como aprender a lidar com uma família. Não que devam aprender a ser super pais, isto é para quem tem vocação e a maioria de vocês já fez a besteira, procriou sem o devido preparo. Então não façam outra besteira. Quando um maníaco monetarista tentar encher seus rebentos com drogas industrializadas, peguem-nos e saiam correndo sem olhar para trás, porque se ficarem o sem-vergonha vai fazê-los sentir culpa, caso não queiram caceitar. Busquem sempre uma segunda opinião e não caiam na tentação da solução fácil. Se o fácil tivesse valor, a bíblia (e a torat, o corão, os vedas, as promessas de políticos) poderia ser interpretada na forma literal e o mundo realmente teria sido feito em seis dias... Teria saído uma lambreca ainda maior.
Como vive reclamando minha amiga Irene Lacerda Ramos (
aqui), as crianças estão sendo enchidas com drogas ainda em tenra idade, ao primeiro sinal de problemas que derem. Estas crianças, em breve, não saberão viver sem as drogas que tomam hoje, e que um dia podem ser banidas. É comum. Todos os dias os milagres pharmoquímicos apresentam um efeito colateral não previsto (ou omitido) durante os anos de testes. Se os efeitos forem maiores do que os alegados benefícios, os países que têm uma vigilância sanitária os banem, ou no mínimo fazem restrições que acabam por iviabilizar seu comércio, que tudo o que interessa àquela gente. E então, como o viciado vai se virar? O traficante sempre tem uma resposta fácil.
Crianças, GRAÇAS À DEUS, dão problemas. Crianças fazem os adultos crescerem, ainda que na marra. Crianças não são e não devem ser robozinhos, aos quais se dá corda para alegrar as visitas, elas são pessoas sem noção, que vivem nos apontando nossos próprios defeitos. Não tolham esta capacidade, não se privem deste aprendizado, vocês não são mais livres e desimpedidos, vocês são pais e mães. Colocaram no mundo? Agora não tem jeito. Aproveitem, porque quando derem problemas vocês vão precisar e muito das boas lembranças.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Postagem aleatória

Usando a boa e velha pesquisa gugoólica de sempre, vou fazer essa postagem totalmente aleatória. Mas, em vez de colocar os resultados de busca em número, vou citar a primeira referência ao termo.

Começo e termino com a palavra-mote de hoje: "aleatória", em 10 buscas (sendo a décima uma de imagem).

A palavra "aleatória" tem uma referência matemática como primeiro lugar (variável aleatória). Espero que isso signifique interesse na sua pesquisa.

Matemática, por sua vez, remete ao portal para os profissionais desa ciência que é o terror de, pelo menos, oito entre dez alunos que eu conheço.

Já terror nos remete a imagens, não ao termo em si. É o poder da imagem, o mais antigo e mais presente meio de comunicação.

É interessante que o termo comunicação remete imediatamente ao significado da palavra. Sinal que as pessoas precisam, e muito, conhecer melhor os termos, caso contrário os dicionários e enciclopédias online não seriam tão acessados.

Falando em acessados, a primeira da lista é exatamente uma.... lista, que enumera os sites mais procurados pelos internautas.

O que me chama a atenção na palavra "lista" é que a primeira colocação está na nossa velha conhecida lista telefônica. Em tempos de comunicação virtual, é um dado sobre o qual se pode refletir.

Refletir, o verbo do espelho e dos filósofos, nos envia de imediato para um dos assuntos preferidos aqui no Talicoisa: frases. A profundidade de algumas das coletadas no primeiro a aparecer é menor do que a de um espelho, acreditem.

Nem adianta procurar em frases profundas, porque o que aparece ligado ao termo "profundas" é na mesma linha da indicação anterior, com as vírgulas distribuídas com igual descaso.

E olha que a primeira colocada no quesito "vírgulas" é exatamente uma inicação de como usá-las.
O pior é que, como as frases dos exemplos acima mostram, as pessoas continuam distribuindo vírgulas de forma... aleatória.


A imagem ao lado apareceu quando busquei por imagens para o termo em pauta. Vem deste blog.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não acredito...


Poderia dizer...

Não acredito em engenharia genética. Não que os genes não existam, não que tenham influência (têm muita) na vida de uma criatura. Vejam bem, nestes oito anos de saúde pública o que mais vi foi médico sendo (no mínimo) notificado por intermediação de receituário, que é proibido. Não são raros os casos em que o indivíduo que fez o juramento de Hipócrates se torna um hipócrita juramentado e simplesmente vende o paciente para o laboratório que pagar a maior comissão, infelizmente algo quase impossível de ser provado. Tendo isto, vou às anteriores. Fazendo promessas a torto e a direito, os fulanos alardearam que estavam desvendando os segredos da vida, devassando o genoma humano. Patente atrás de patente, sendo que nenhuma (até onde sei) é aberta, se apossaram do conhecimento que já estava lá quando eles chegaram. Juravam que todo este trabalho tornaria a vida melhor, que fabricariam felicidade em laboratórios. Tantos anos depois, as pessoas estão é mais tristes, mais deprimidas, mais gordas, mais dependentes de sensações físicas para não darem cabo de si mesmas. Doenças já erradicadas estão tendo sua fase vintage em uma população que, não bastasse a precariedade nutricional, não tem mais nenhuma resistência às vovós infecciosas. Indústrias do belzebu fabricam sementes que se suicidam, tornando o productor perenemente dependente de novas compras, talvez até nações inteiras. Para o que não presta, a tal genética conseguiu proezas, para justificar o dinheiro que o povo investiu, necas de pitipiriba.

As reais benesses da genética, na realidade, foram conseguidas na produção de animais e plantas, apenas refinando o modo antigo de se fazer a seleção das matrizes. A vantagem de se escolher tudo pelo microscópio é se aumentar a precisão e reduzir os prazos, o que barateia o processo, mas se não há esses problemas, e em comunidades isoladas não há, dá para se fazer a seleção à moda antiga. Sim, clonaram ovelhas... descartáveis. Experiência que caiu no esquecimento do público. Sim, há experimentos de vacinas e transplantes... em ratos. Isto se faz há mais de um século, na base da tentativa e erro, desde o tempo em que um médico valia o diploma que tinha.

Lembram do coreano que dizia ter clonado um cão, e estava praticamente fazendo uma linha de montagem? Não. A maioria não se lembra, mas é fácil encontrar, basta digitar "micos da ciência" ou "charlatanismo da genética", filtrar bastante e ele estará lá. Pois é, quem se lembra também se lembra que ele forjou tudo. Quem não garante que o resto também não foi forjado e o calaram para que as investigações não se alastrassem? É muito dinheiro em jogo, são trilhões de dólares, muito mais dinheiro do que tua esposa, tuas filhas e tua sogra juntas podem gastar se voltarem a ser bebês e começarem do berçário. Se de uma hora para a outra descobrirem que não é nem metade do que alardeiam, muitas corporações quebram.

Lembram das lições do antigo segundo grau (já que os "estudantes" de hoje não precisam nem estudar para passar) dos genes dominantes e recessivos? Como tudo o que escrevi acima, para isto a vida prática, a vida real, a vida plausível e vivenciável me deu muitas provas contrárias. Conheço negros que tiveram filhos muito brancos, sem albinismo nem adultério. Sei de negros que se casaram com orientais e tiveram todos os filhos com a cara da mãe. De gente muito branca que trabalhou a vida inteira na roça, sob o sol ardente, e morreu muito tarde, de velhice mesmo. Ninguém me explica, simplesmente dão de ombros e tentam esquecer. No máximo dizem que os genes apresentam tendências, somente tendências... Lembram do "Os astros predispõe, mas não impõe"? Pois é.

Depois que comecei a lidar com a parte suja da "ciência", nenhuma notícia ruim que vier dessa gente me surpreende. Quem paga tem as pesquisas que quiser, com os resultados que quiser, os laudos que quiser e ainda compra espaço na mídia para divulgar como "A verdade dobre isto ou aquilo".

Tive problemas na mais tenra infância, muitos problemas. Médico nenhum resolvia de verdade. Sabem o que me ajudou? Simpatias e benzeduras. Coincidência? Não, a situação era específica demais. Sugestão? Nem pensar, eu era um bebê, não havia como me "convencer" de cousa alguma. Se deram explicações "plausíveis e racionais"? Não, nenhuma.

Minha experiência na saúde pública me provou que homeopatia funciona sim, mas hoje há poucos homeopatas de verdade, a maioria só entra no ramo pelo dinheiro e esquece o que se ensinava de pai para filho, como a ética.

Poderia dizer...

O homem jamais pisou na lua. Tudo foi uma farsa bem intencionada para dar satisfações ao povo americano, depois do tapa que os soviéticos deram em suas caras rosadas. Eu não duvido que um foguete tenha decolado, que tenha saído da atmosphera, ma daí a ser tripulado vai uma grande distância. A União Soviética era uma ditadura, podia fazer o que bem entendesse com o cidadão que não se poderia reclamar. Os Estados Unidos são uma democracia, existem limites para as atrocidades que o Estado pode impor mesmo aos militares.

Não foi uma vez, foram várias em que especialistas disseram que as missões Apolo poderiam ter sido feitas por máquinas, a um custo muito inferior e sem riscos à vida. Quem garante que não o foram? Existem teorias da conspiração canhestras, que são alimentadas pelos próprios governos para desacreditar as denúncias legítimas. Tantas viagens tripuladas não seriam suficientes para que hoje o turismo espacial fosse uma rotina, ainda que só para os ricos? Eu acredito que sim. Se realmente tivessem levado aqueles fulanos para a lua, todos eles em todas as missões, os avanços conseguidos já teriam nos permitido eliminar a dependência do petróleo. Não, as petrolíferas não precisariam temer, o óleo mineral tem muito mais utilidades a preços bem mais atraentes do que a combustão interna.

Alguém pode dizer que os soviéticos jogariam farofa no ventilador se fosse mentira. Caros, o desmantelamento da União Soviética mostrou que grande parte do arsenal nuclear era falso, eram mísseis vazios feitos para impressionar nos desfiles. A CIA sabia disso e com certeza esfregou esta fragilidade na cara deles, para se prevenir. Não nego os avanços das missões espaciais, de modo algum, a órbita é perfeitamente atingível sem grandes riscos. Daí a viajar um segundo-luz é brincar com a minha inteligência. Com tanta espionagem que ainda hoje existe, facilmente o Brasil também já teria conseguido tecnologia para mandar alguém para a lua... Tenho uma lista enorme de quem poderia ir e por lá ficar.

Além do mais, o povo ficou feliz. A indústria faturou e gerou muitos empregos bem remunerados, foi bom para todo mundo. Foi uma era de prosperidade e optimismo difícil de se encontrar na história. A Casa Branca tem todos os motivos do mundo para manter a ilusão. Um dia, quem sabe, consigamos colocar nossos pezões no satélite. Talvez eu mesmo testemunhe o facto histórico.

Eu poderia dizer e afirmar tudo o que escrevi acima. Na verdade eu sei porque a genética e os programas espaciais enfrentam tantos problemas, e nada tem a ver com os coitados dos cientistas, que são os mais cobrados e mal pagos nessa história toda.

Os tratamentos genéticos ainda não deram as respostas desejadas porque realmente não houve tempo. Eles descobriram qual idioma ele fala, agora estão tentando aprender o idioma, sem mestre. E pasmem, muitas "palavras" deste idioma ganham significados completamente diferentes entre si com uma vírgula fora do lugar.

As viagens espaciais não são rotina até para pés rapados por questões políticas. A mesma tecnologia utilizada para ir à lua poderia nos levar às profundezas abissais dos oceanos, se a mentalidade podre, arcaica, limitada e paralítica dos políticos não atrapalhasse. Em ambos (e muitos outros) casos, falta mais vontade política do que qualquer outra cousa.

Eu falei que não acredito e dei razões, depois que acredito e também dei razões. Acreditem na segunda fase, e na parte testemunhal da primeira. Apesar dos pústulas que as indústrias corromperam, a maciça maioria dos cientistas é de gente dedicada e sincera no labor de suas missões no mundo. É tudo questão política. Políticos não sabem porcaria nenhuma de cousa alguma, mas têm um orgulho transbordante e não admitem que um "reles cidadão" com pós doutorado em partículas reversas trabalhem e vivam melhor do que eles.

Eu já disse em algum texto, não lembro qual, e repito que já fui ateu. Mais ateu do que o plástico ordinário deste teclado. Conheço ambos os lados. Os mesmos argumentos que um cidadão simples usa para duvidar das conquistas científicas, os ateus radicais usam (com outra roupagem) para atacar tudo o que lhes foge à compreensão. Eu não acreditava porque não me convencia, fui convencido por mim mesmo após provas suficientes e consistentes me terem sido apresentadas. Como na genética, provas desse tipo são quase sempre pessoais e instransferíveis, por isto só convenceram a mim, outros seriam convencidos por outros meios, todos diferentes entre si. Eu não acreditava, mas respeitava. Do mesmo modo como hoje respeito a não crença, porque sei muito bem como é ter um fanático, que mal sabe interpretar uma frase simples, repetir ad infinitum a mesma ladainha de recompensas, com as quais eu não contava e castigos que eu não temia. Minhas psicólogas sabem o quão dura é minha cabeça e o quão resistente eu sou àquilo que não me interessa, sou virtualmente imune à hipnose, sou o tipo que os publicitários odeiam porque uno o raciocínio tremendamente crítico (e cri-cri) ao conhecimento de causa, especialmente quando o assunto é indústria. propagandas podem me encantar, mas nenhuma me convence a comprar algo se eu não estiver precisando daquilo. Não, meus amigos, ninguém colocou na minha cabeça que "superstições existem", todos tentaram e ninguém conseguiu. Eu sei o que é uma superstição. O que os radicais (teístas e ateus) entendem como "Deus" é uma superstição, como para tudo mais o que a "ciência formal" detrata sem se importar com quem ofende. Aos dois grupos eu digo e reitero quantas vezes se fizerem necesárias: Deus não existe, Deus é; a própria existência é sua criação. E entre o capricho de um louco que quer caminhar no ar, e preservar a integridade de um planeta que precisa da gravitação em vigor, Ele prefere te deixar estatelar no chão.

Crêr cegamente ou descrer raivozamente é um problema psicológico (porque psicoterapia eu também comprovei que funciona, as drogas que me passaram só me fizeram mal) e pode ser resolvido facilmente, se as partes quiserem. Para mim, que tive um pouquinho, só um pouquinho de humildade para admitir que não detenho a verdade em minhas mãos, funcionou que foi uma beleza, não me suicidei, o que para alguns pode não ser óbvio.

Ainda faremos viagens espaciais como quem vai de São Paulo à Santos, ainda seremos curados de moléstias hoje gravíssimas com uma simples consulta médica, ainda pagaremos a um pesquisador mais do que a um vereador. Tenho fé em Deus e nas pessoas de boa vontade que sim.

Peço então a ambos os lados, encarecidamente, que cessem de tentar me converter às suas convicções, parem de aporrinhar a minha paciência taurina. Ela é grande, mas é finita.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Palavras que se tornaram outras - II

Interessante como a dinâmica das vida, a má interpretação textual ou mesmo a má-fé podem fazer com que as palavras e expressões mudem de sentido. Aqui, foquei nas palavras propriamente ditas, mas hoje me deparei com algo que me fez perceber que expressões inteiras também podem ser modificadas ou mesmo reinterpretadas a tal ponto de perderem totalmente seu sentido original. É ela que encabaça a já tracicional listinha.

1. "Estou fazendo história". A pessoa que disse isso não descobriu a cura da AIDS, não inventou algo que possa contribuir para o fim da miséria no planeta, não encontrou a solução para o dilema crescimento populacional X natureza, não descobriu a tradução de línguas antigas que se consideravam intraduzíveis, nada. Ela posou nua. Só isso.

2. "Segredo do sucesso". Não, não há milhões de CDs, nem livros, ou CD-ROMs, nem DVDs ou qualquer outra mídia sendo vendidos. Também não se trata de milhões de acessos, nem de assinantes. São só centímetros e quilos a menos. A frase costuma estar em reportagens/notícias sobre o emagrecimento.

3. "Meus heróis". Nenhuma pessoa sendo salva, incêndio apagado, desastre evitado. Nem um mísero gatinho retirado de uma árvore. Só um bando de futuras sub-celebridades fadadas ao esquecimento e vergonha alheia sendo saudadas dessa forma por alguém que já cobriu até a queda do Muro de Berlim. Patético. Não, eu não me canso de lamentar isso.

4. " É a musa". Não pense na mitologia greco-romana, nem em poesia, nem em canções inspiradas. Hoje, pra receber esse título, basta ser considerada "goxtosa".

5. " O craque do campeonato". Dribles incríveis? Gols memoráveis? Passes milimétricos? Exemplo para toda uma geração de aspirantes? Nada disso. Dois goleiros estão no topo dos craques de 2009, um dos quais, aliás, está entre um dos piores exemplos de qualquer coisa que possa ser associada a um humano. Nada contra os goleiros-do-bem, lógico, mas isso só mostra como o futebol enriqueceu financeiramente e empobreceu como jogo.


Que expressão vocês citariam?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Fazer o quê?


Em sua cobertura faraônica, no edifício de sua propriedade, este cercado de imóveis que adquiriu após a mudança de vida, o ex-traficante conversa com o juiz que o tinha condenado. Durante a maior parte dos anos de cárcere, queria matá-lo lentamente, talvez abrindo-lhe feridas e o jogando no meio de formigas carnívoras. Mas depois que o próprio juiz o chamou para uma conversa em particular, os interesses sobrepujaram o ódio e tudo mudou de figura. À beira da piscina, os dois conversam...

- E pelo que vejo o seu patrimônio com dinheiro limpo é bem maior do que antes.

- Nem me fale! Como eu perdi tempo! Ganho em um ano mais do que eu acumulei durante todos os anos de tráfico.

- Fora que não tem mais certos gastos.

- É verdade. O que eu gastava com advogado era uma loucura. Aliás, aquele sacana que sempre me mandava mais clientes...

- Perdeu o registro de advogado. Até para um advogado de porta de cadeia existem limites, e o seu ex advogado passou por cima de todos.

- O desgraçado me iludia pra eu atacar com mais raiva e de foder mais.

- E precisar mais dele, para pagar mais honorários, enfim... Mas ele terá muito tempo para pensar nisto.

- Está na mesma cela?

- A mesma que você ocupava.

- Vendo aquela vista linda?

- Não. Tem muito mais gente querendo fazer churrasco dele, o muro foi elevado. Ele só vê tijolo.

Tomam uma taça de vinho branco doce, para aliviar o calor, este que se despede aos poucos. O juiz, macaco velho, sabe que o ex-detento não se converteu para a ordem dos anjos celestiais, então pede que seja sincero, sem compromissos nem risco de represálias...

- Sinceramente?

- Pode falar. Quem está aqui agora é um amigo, não o magistrado.

- Falou. Eu não saí um centímetro da lei, juro... Nem preciso.

- Como assim?

- Doutor, antes eu ganhava dinheiro fácil do modo mais perigoso. Me envolvi com o tráfico internacional, matei pelo simples prazer de apostar pra que lado o infeliz cairia, lavei dinheiro de metade dos políticos do país e de muitos do exterior. Só não trafiquei órgãos porque o risco de o cliente morrer antes do transplante e não pagar é maior do que vale. Se tiver mesmo outra vida, eu tô lascado.

Bebe outro gole, enquanto pensa e mede as palavras...

- Só que eu não fiquei bonzinho. Eu era traficante, hoje sou banqueiro. Posso te garantir que as diferenças são bem poucas, a maioria meramente ornamental. Banco, principalmente no Brasil, vive da desgraça alheia, que nem eu na minha antiga vida. Eu não obrigava ninguém a começar a usar drogas, mas fazia tudo quanto é artimanha pra convencer os filhinhos de papai que só seriam machos se encarassem a barra. É a publicidade do submundo, funciona. Para sair, se eu soubesse que estava tentando sair, ameaçava a família inteira de morte pra obrigar o cara a continuar se drogando, ou só comprando, tanto fazia pra mim.

- E hoje?

- Hoje eu não obrigo ninguém a assinar um contracto. Mas já viu a nova campanha do meu banco?

- Sim, é maravilhosa, diga-se de passagem. O publicitário está de parabéns.

- Obrigado, o publicitário sou eu mesmo. Usei minha experiência e a agência traduziu para o mercado financeiro. Eu convenço o cidadão honesto e ansioso por resolver seus problemas de que o meu banco é a solução. Notou que as pessoas entram (na propaganda) meio curvadas em minhas agências e saem altivas, radiantes? Até a iluminação sobre elas muda. É psicologia, doutor. Eu uso de psicologia para convencer o cliente a colocar uma corda no pescoço com as próprias mãos.

Existem muitos termos que são próprios de cada ramo, e no mercado financeiro não é diferente. São termos e gírias esquisitas que só nós entendemos, mas que existem há décadas e são fluentemente faladas pelo grupo. O que fazemos é entupir os contractos com esses termos e suas abreviações, porque alguns são quilométricos, e damos para o cliente ler à vontade.

- E ele não entendendo, cai.

- Cai. Feito um pato. O cidadão não é economista, assim como não é engenheiro, não é médico, enfim. O cidadão médio é um idiota, que em vez de ler e ouvir o que vai lhe fazer diferença, perde tempo com bobagens apelativas que matam um neurônio atrás do outro. O povo é uma massa imbecil que raciocina com o baixo ventre, a presa lenta e suculenta que nem percebe que está sendo vampirizada. Quando alguém chega a ganhar uma ação contra nós, pagamos com o maior prazer. Primeiro porque o decorrer dos trâmites legais dá tempo para eu ganhar mais do que a indenização pedida, e com o dinheiro do reclamante; segundo porque isto não arranha sequer o verniz da nossa imagem, os outros clientes continuam caindo feito patinhos.

- Mas há advogados que conhecem muito bem o ramo.

- São poucos. No Brasil são poucos. Mesmo os que conhecem não conseguem muita agilidade nos processos, os nossos advogados batem na tecla eficaz de que o cliente levou o contracto e teve o tempo que quis para lê-lo. Até levamos outros clientes, quase sempre amigos nossos, com conhecimento de causa para demonstrar que uma pessoa comum consegue entender os termos, se estiver disposta a pesquisar um pouco.

- Mas ninguém pesquisa.

- Não, quase ninguém. O brasileiro é acomodado, trabalha com as mãos e não usa a cabeça, ou não teríamos mais bares do que escolas e bibliotecas no país. Muitas vezes o próprio cliente desiste da ação, se convencendo de que a culpa foi dele e não nossa. O que eu faço como banqueiro é parecido com o que fazia como traficante. Só que antes a polícia tinha o dedo no gatilho pra estourar a minha cabeça, hoje a polícia me protege. Antes eu tinha que mandar meus filhos pro exterior, pra não terem o mesmo fim que eu dava ao filho dos outros, hoje eles viajam pra estudar, passear, aproveitar a vida. Eu andava com um carro blindado, que não chamasse atenção, e duas escoltas armadas até os dentes, hoje eu ando em um carro ainda blindado, mas vistoso e só com o motorista me acompanhando.

- Mas não me consta que os clientes do seu banco costumem ir à falência.

- Eu disse que as diferenças são bem poucas, não inexistentes. Por que vou querer que o cara perca a casa e vá pra debaixo da ponte? O que ganho com isso?

- A casa.

- Pensamento primário. Eu endivido o sujeito pelo resto da vida. a não ser que ganhe na loteria, ele nunca consegue pagar os juros e as centenas de serviços embutidas. Leva tempo, mas o que ele me paga é quase sempre mais do que vale o que foi dado como garantia. Nós só cobramos pra desestimular o calote, pra fazer o cara aceitar uma renegociação. A gente percebe quando ele está cambaleando, não sou burro como os outros bancos, que matam a galinha dos ovos de ouro. Quero o cliente cativo, me rendendo dividendos, mas dormindo direito. Se a família dele passar fome, eu não ganho.

- E a inadimplência?

- A gente chora de barriga cheia, doutor. Está para nascer povo mais honesto e prestativo do que o brasileiro. O povo paga, nem que tenha que ficar sem uma das refeições do dia. Choramos para atingir os brios do povo honesto e trabalhador, que não quer ser comparado aos poucos caloteiros, que nós conseguimos acionar facilmente.

O juiz, já em vias de se aposentar, se pergunta o quanto já pagou sem perceber. Um centavo de cada cliente, explica o banqueiro, gera uma fortuna por dia, fora o resultado das aplicações com esse dinheiro...

- Não se engane, doutor, eu continuo não valendo nada, só que agora não represento mais perigo à sociedade. Por efeito colateral, eu gero dezenas de milhares de empregos directos e outros tantos indirectos. Por mim tudo bem, estou ganhando, é o que me importa. Mas voltar para aquela vida irresponsável e desnecessariamente perigosa de traficante, não, de jeito nenhum.

- E os seus antigos comparsas?

- São mais burros do que eu supunha, na época. Preferem uma vida de "emoção", de "adrenalina", de "poder"... Rá, ra, ra, ra, ra, ra, ra... Quer mais emoção e adrenalina do que esportes radicais? Amanhã te levo pro autódromo, tenho uns carros de corrida e o doutor vai ver o que é adrenalina de verdade. Quer mais poder do que ter montes de políticos no bolso? Eles são imaturos, são adolescentes de caras enrugadas, não entendem quando é hora de parar de fazer masturbação política e passar para as núpcias com o poder.

- Quer dizer, dá pra ser sacana dentro da lei.

- Ô se dá! É até mais fácil. Antes as pessoas me viam com vontade de me matar, hoje me vêem como fonte de inspiração. Porque, justiça se faça, eu ralei. Sacaneei, mas ralei para ser sócio majoritário deste banco. Eu mereço estar onde estou.

O juiz concorda, fazer o quê?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pequeno dicionário político, segundo a Família Dinossauro

Como o Talicoisa tem se empenhado para trabalhar o tema política - o que é bem compreensível, já que estamos em ano eleitoral, vamos a um pequeno dicionário político segundo a Família Dinossauro, em uma série de quatro vídeos, todos disponíveis no Youtube (r).

1. A escolha do candidato da oposição. Não pense que esse tipo de coisa não ocorre, inclusive casos de candidatos escolhidos para desviar a opinião pública.



2. O importante papel da oposição. Sem esquecer que a oposição é, por definição lógica, quem está fora do governo, não necessariamente o partido que não está no poder. Por isso é que representantes das mais diversas legendas conseguem estar no governo e na oposição ao mesmo tempo, o que amplia seus poderes e - como quase todo discuros político que tem sido divulgado - desafia a lógica mais simples. Por exemplo, há os que tem importantes cargos no governo, mas sempre falam como se não fizessem parte dele.



3. Marketing político. Hoje em dia, ou talvez há mais tempo do que se imagina, a propaganda é a arma da da política, como é da indústria e dos serviços. Desconfie sempre, em todos os casos.



4. As opções do eleitor. O grande truque da democracia é fazer com que as pessoas pensem que tem escolha. E isso sempre vai dar certo, até que, como já disse aqui, as pessoas passem a entender que o voto não é o fim da democracia, mas somente um dos seus meios.