sexta-feira, 16 de julho de 2010

Censura no blog alheio é refresco

Desde 1984, quando o presidente Figueiredo virou a página da ditadura no Brasil, que eu não esperava ver esse monstro novamente, a famigerada censura à comunicação pública. Ele até tentou acabar também com o excesso de burocracia, que até hoje só serve para gerar cabides de empregos, quase sempre para incompetentes, como gente que não sabe diferenciar um parafuso-prisioneiro de um pára-brisas e inventa regras estapafúrdias para o campo automotivo.
Pior, eu não esperava ver justo as presumíveis maiores vítimas da censura tentarem ressuscitá-la. E para quê? Conter uma tentativa de golpe? Punir uma incitação à leso-pátria? Não, nada disso. Só por não terem gostado do que leram.
Grupos radicais de esquerda e direita querem censurar os blogs simplesmente por "crime de opinião". Não gostar do que o presidente disser e demonstrar isto em público é se arriscar a ser alvo de ameaças, partidas de pessoas jovens e escoladas, que deveriam ser as primeiras a lembrar do que a história recente nos ensinou. Só o que parece que aprenderam foi usar de dois pesos e duas medidas; dão (quando dão) em milímetros e cobram em polegadas.
Os mesmos que reclamavam de quando seu tempo nos horários eleitorais ou partidários era escasso, hoje usa dos mesmos subterfúgios dos caciques da época para burlar a legislação eleitoral. A diferença é que nos anos 1970/80 não havia uma legislação específica para regulamentar o uso eleitoral da mídia e punir abusos, hoje há e é desrespeitada solenemente, sem que os tais radicais sequer digam "Fazer o quê, é a chefia que está fazendo isso". Mas ai de outro que fizer o mesmo.
Não me surpreenderia se partisse somente dos grupos que enriqueceram às custas de inflação e recessão, estes nunca foram bons e nunca fizeram questão de parecer, apenas repetiam "roubamos, mas fazemos". São simplesmente cínicos. Fazer o mesmo que eles e ainda se dizerem defensores dos interesses do ploretariado é hipocrisia da grossa.
Não são apenas opiniões que rejeitam, piadinhas ou charges, mesmo as mais inocentes e despretensiosas, se tangenciarem seus "líderes", podem render episódios que a massa só acredita existir em países onde há radicalismo religioso. O amigo
Benett que o diga, muitas vezes é atacado por satirizar com extrema competência o presidente em que ele diz abertamente ter votado, mais por falta de opção do que por esperança, diga-se de passagem. Não são sátiras gratuitas, ele só satiriza o ridículo e, convenhamos, faz parecerem engraçadas pessoas que têm seguranças porque não sairiam ilesas de um passeio de peito aberto no meio do povo, é um favor que deveriam aceitar de bom grado.
Na esteira desses revoltadinhos que não querem largar o osso que agarraram, tal como faziam os "pelegos do imperialismo americano que explora nações proletárias", vêm os revoltadinhos que querem o osso de volta. Há um projecto de lei no congresso que transforma o blogueiro em um criminoso presumido. Querem nos responsabilizar pelas asneiras e potenciais calúnias que comentaristas anônimos, ou que dão dados falsos, escreverem nas caixas de comentários. É uma lei do demo mesmo, pois vem justo de radicais a grande maioria das asneiras e ataques muitas vezes gratuitos, que infernizam as caixas de comentário. Mesmo o genial
Laerte, que tem uma coletânea riquíssima de arte em forma de charge, entusiasta da liberdade de expressão e criador da Muriel, teve que passar a moderar para conter a invasão dos radicais recalcados, que estavam se digladiando com os radicais pós-recalcados, em nome da moral e dos bons costumes segundo suas interpretações próprias e dubias.
Eles não fazem questão de saber, ou mesmo ignoram o facto de que a grande maioria dos blogueiros não vive de seu blog. Quase todos só querem dividir algo que acham bom de ser dividido. Blogueiros como eu, que divulgam idéias e abusam das parábolas para tanto, são uma minoria, menor ainda é o número de blogueiros que têm uma renda razoável de suas páginas e podem se dedicar por horas diárias sem medo de negligenciar as despesas da casa.
Imaginem uma garota que é fã da Lady Ga-ga. A fictícia garota enche uma postagem com elogios, dados da agenda da cantora, imagens e vídeos relacionados, nada falando de cantoras nacionais, afinal seria um blog temático. Um dia ela precisa se dedicar às provas e negligencia compulsoriamente o blog, no que um idiota qualquer aproveita para chamar a turma e encher a caixa de comentários com ofensas, ameaças e assédios de toda sorte. Quem tem blog há mais de um ano sabe do que estou falando. A vestibulanda pode pagar multas pesadas pelo que outros, que podem ser filhos dos candidatos a censores, publicaram. A lei não a obrigaria simplesmente a apagar o que foi escrito, a puniria pelo erro de outro. É como multar um repórter pelo que o entrevistado disser. Moderar é um recurso, obrigar o blogueiro a usá-lo não vai sequer reduzir os ataques estúpidos a que ele está sujeito. Se um leitor disser "Cara, eu odeio essa merda que eles chamam de cinema brasileiro" eu não poderei simplesmente apagar o comentário, como nunca apaguei nenhum por contrariar minhas idéias. Podem procurar que vão encontrar alguns que só não pularam no meu pescoço porque não puderam. Por ordem judicial eu apagaria, mas faria um texto extra me desculpando ao mal educado e explicando os motivos em detalhes.
Ainda me pergunto os critérios a serem usados, se para essas pessoas o simples não simpatizar com suas idéias de jerico já é um crime. Eu tenho tendências autoritárias que não são poucas, mas as controlo com rédeas curtas, eu não sou mais adolescente para achar que quem não é da minha turma é meu inimigo.
Para colocar a pretensa lei em prática, deverá haver uma equipe dedicada a procurar infrações e ouvir queixas. Não será apenas mais uma despesa para o erário público, será gente que colocará a opinião alheia sob o jugo dos padrões éticos e morais particulares de alguém. E ofensas reais vindas de radicados no exterior? Vão bloquear o acesso ao provedor do blog no Brasil? Vão obrigar o judiciário de Detroit a punir a livre expressão de um brasileiro legalmente lá estabelecido? Não. Com quem eles não podem, simplesmente xingam, citam seu autor intelectualóide preferido (ou um versículo mal interpretado) e saem com o rabinho preso entre as pernas.
Asseguro que isto seria só o primeiro passo para voltarmos às agruras do Ato Institucional Número Cinco. Pessoas emocionalmente imaturas, que não toleram ser contrariadas, agem pela insaciabilidade da vingança. Não demoraria para os jornais voltarem a publicar poesias e receitas no lugar de notícias que contrariarem seus interesses. Sinais de televisão demorariam vários segundos para serem transmitidos, para viabilizar o trabalho sujo da censura de opinião. Testemunhas? Ai delas.

Tenham certeza de que eu seria transformado em criminoso e teria que me exilar, sem exageros. Eu e muitos amigos com senso crítico activo.
E vejam só, no decorrer do texto me veio uma idéia de burlar legalmente esse absurdo, corrigindo a ortographia me veio a idéia. Simplesmente trocaria o nome por "Palavras da Mica, uma brasileira enlouquecendo Rochester" e mandaria os textos para minha amiga publicar, lá dos Estados Unidos.
Tenho um ocorrido recente para relatar. O blog Planeta Fusca, do amigo Gilhon, saiu do ar na quarta-feira, por um ataque cibernético. Por que? Porque ele não dá a mínima para quem não gosta do que ele publica, que é basicamente assuntos sobre o Fusca e encontro de antigomobilistas e entusiastas. Felizmente está de volta ao ar e recomendo uma visita. Se esses radicais de lanchonete conseguirem seus intentos, algum amigo deles certamente vai conseguir tirá-lo do ar em catáter definitivo, por meio de favores. Como em toda ditadura, que é o que querem que o Brasil volte a ser.
Não gostei da aproximação do presidente às ditaduras, não gostei do modo como tratou uma Secretária de Estado, não gosto do modo como nos mantém atrasados em relação aos outros países na mobilidade eléctrica, não gosto das pessoas que ele colocou no lugar de profissionais competentes em autarquias outrora ilibadas, como os Correios. E presidente brasileiro deveria voar de Embraer. Ou será que Obama concordaria em andar de Rolls Royce?
Tenham, porém, certeza de que as máscaras já estão caindo e nem o povo mais chucro vai dar crédito eterno aos sanguessugas que se juntaram aos ratos. No que depender de canais livres como este, vocês podem expressar seus à vontade descontentamentos desde que não hajam ofensas, no máximo ignoro, nunca revido e aceito sugestões de temas. Porque é com exercícios assim que a democracia fortalece sua musculatura.
Francamente estou em dúvidas quanto ao meu voto para as próximas eleições, mas o não-voto está decidido. Ao contrário do que apregoam, o Brasil não mudou tanto assim, muito menos para a melhor, não para quem deveria mudar.

2 comentários:

Adriane Schroeder disse...

É como ensina o velho ditado:
Quanto mais muda, mais fica a mesma coisa.

Nanael Soubaim disse...

Daí eu ter convocado o Léo Jaime.