sábado, 27 de março de 2010

Poderosa Bullock


Ganhou a framboesa lá de baixo e todo mundo riu, mas depois a academia com o Oscar a premiou, assim ela preenche todo o vão, do mais baixo ao mais alto escalão, sem dar pelota para cotovelos doidos dos invejosos de plantão. Oh, Poderosa Bullock.

Não se dá com elogios, nem os ouve e vai embora, bajulação não paga conta. Anda glamourosa e moleca ao seu carro, esnobando os paparazzi que estão ganhando seu pão, deixando um rastro de queixos pelo chão. A moça gosta de transparências, das pernas grossas a respirar, da cintura se articulando e o sorriso provocando; é só para olhar. Oh, Poderosa Bullock.

Que beleza de mulher, que corpo bem formado, voz comum, mas muito bem entonada, o rosto da colegial que não mudou quase nada, a desinibição de uso profissional. Uma boneca sem laçarotes que não se nega à labuta, não foge da briga e não recusa as flores. Por muitos anos ainda os marmanjos vão babar, as mulheres a copiar e a imprensa a registrar, só para a verem na página e no ar. Oh, Poderosa Bullock.

Quem se ri de seus filmes não consegue imaginar, ela está sempre trabalhando e muito mais tem para trabalhar. Se parece muito meloso ou simplesmente sem sal, pelo trabalho ele recebe e garante ao mês um bom final. Tanta gente só espera e aceita mega produção, tanta gente empinando o nariz para quem não tem nome feito, para ela o trabalho é para ser trabalhado, aprendeu com a mãe alemã. Para quem vive da imagem, por sua postura ao trabalhar, notem que ela está sempre em todo lugar. Oh, Poderosa Bullock.

Tanto se concentram nos paparicados, invadindo até seus banheiros, sua vida é bem mais preservada. Os que sabem, sabem que ela não revela tudo, que a Sandra que aparece pode ou não ser a dona da casa. Por muito que apareça ela sempre se esconde, por mais que se publique seu rosto ela não aparece, sua casa está aberta e o povo não a conhece. É uma diva misteriosa. Oh, Poderosa Bullock.

Talento sem técnica é cavalo bravo, técnica sem talento é cavalo manco. Ela nasceu com um e conquistou o outro, seu cavalo é veloz, forte e discreto, sabe se esconder da predação e se atirar à corrida para sobreviver, bem como atacar com fortes coices os lobos, pumas e coiotes, cada um que se atrever. Quem domina seus recursos merece ouvir dizer: Oh, Poderosa Bullock.

O tempo dará razão a quem tem. Quando muitas iniciantes sumirem, quando as purpurinas caírem, quando a peneira do sucesso deixar muita gente para trás, quem tem a cabeça feita e os pés no chão poderá lançar sua biographia, contando como sobreviveu. Porque o mundo artístico é perverso, ingrato e só respeita se for devidamente domado, e só doma quem se domou pela devida educação. Então os desafetos vão se curvar à dama que olha de cima e vão recitar: Oh, Poderosa Bullock.

Quem rir disto hoje, até pode se divertir, mas advirto que o mundo não pára e os pólos estão mudando. Quando se derem conta também se jogarão aos seus pés recitando: Oh, Poderosa Bullock.

2 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Ela foi na entrega do Franboesa. Levou cópias do filme e do roteiro. E pediu à platéia que, se alguém se dispusesse, poderia discutir com ela as cenas, para dar a elas exemplos de como fazer melhor.
Oh, poderosa Bullock!

Nanael Soubaim disse...

A humildade dói mais.