sábado, 9 de maio de 2009

Quem não dança, dança.


Pé à frente, retrocede, outro pé, retrocede. Agora o corpo todo; meio giro, retrocede, o outro lado, retrocede. Agora mescla; meio giro e pé para frente, retrocede, o outro lado, retrocede.
Se for capaz de repetir só uma das instruções acima, pode ir para a pista porque já está dançando.
Desde muito antes do Rei Davi, a dança é sacra, pode tanto te transformar em um ícone de sociabilidade e simpatia, quanto em alguém que ninguém teria coragem de apresentar aos pais. Depende do que se dança.
Não vou falar daquelas boçalidades dementadoras que jogam o cérebro no intestino, Artemis não merece isso, muito menos em seu dia. Falarei Da Dança.
Meus conhecimentos de psicologia são (quase todos) empíricos, resultado de observação e prática. Sou um homem pragmático, fui eliminando aquilo que não produz resultados e formando meu cabedal. Esse cabedal é bastante regado a música e dança, as quais lamento muito que as escolas negligenciem como se fossem meros entretenimentos.
A dança socializa, gera vínculos e aproxima as pessoas de uma forma que quase nenhuma outra actividade consegue. Alguns vão falar das torcidas de futebol, ou de qualquer outra competição, mas em competições a união termina quando moderados e radicais se desentendem. Na dança isso não existe, os pares sabem que se interdependem para evoluir bem, que o tropeço de um tira a ambos de um concurso. Não há espaço para estrelismos.
A dança de caráter social permite estrelas, mas então já não é competição, não há torcidas. Só se torce o próprio corpo e a noção de espaço e tempo. Estes, por sinal, quase desaparecem e aquele gari passa a ser assediado por reis e nobres. Foi dançando que a Cinderela conquistou o príncipe, não pensem que ter um rostinho bonito e sapatos de pele de gamo teriam sido suficientes.
Quem dança anda melhor, tem mais segurança nos próprios passos e nas próprias decisões, pois precisa delas para um pé não atropelar o outro e o rodopio não terminar em tombo. O corpo memoriza os movimentos e passa a executá-los ao longo de uma caminhada comum, dando graça e desenvoltura ao pedestre. O que também poupa a coluna, que foi feita para todo tipo de movimentos e não só o abaixa-e-levanta dos sedentários, movimento lento e repetitivo que desgasta precoce e irregularmente as vértebras. Dançar alonga naturalmente a musculatura e melhora a noção de equilíbrio, reduzindo e atenuando os efeitos de uma queda ou uma pancada.
Um dançarino de salão, mesmo daqueles que só vão uma ou duas vezes por semana, tem a postura naturalmente erecta, sabe melhor conduzir e tratar uma mulher, pois sabe que os pés dela também doem se forem pisados. Sabe se portar melhor no trabalho, pois tem noções de evolução e harmonia, conseguindo orquestrar melhor seus afazeres. Aperta mãos com firmeza e suavidade, sem forçar e sem afrouxar, desce escadarias sem precisar olhar para baixo o tempo todo, sabe onde termina o degrau, passando a imagem de ser um líder para quem assiste à sua descida.
Uma dançarina nas mesmas circunstâncias se torna graciosa e elegante quase sem perceber. Percebe a necessidade de dar um passo de cada vez, para não se atropelar, sabe ser convidativa sem ser oferecida. Quando anda, gira o quadril com a naturalidade com que os sedentários deixam a barriga crescer, as pernas grossas e bem torneadas evoluem em semi-círculo e os braços balançam suavemente sem que pareçam estar sendo jogados. Desde escadarias sem precisar olhar para baixo o tempo todo, sabe onde termina o degrau, passando a imagem de ser uma nobre para quem assiste à sua descida.
Dançar civiliza. Pessoas agressivas e frustradas conseguem fazer fluir suas mágoas sob controle, bem direcionadas, tornando productovo algo que só teria a destruir.
Dançar integra. Pessoas irascíveis ou reclusas passam a ver a necessidade de interagir com os outros, respeitar os limites do próximo e ceder um pouco nos próprios.
Dançar pacifica. Aprende-se a admirar a beleza nas cousas mais simples e singelas, tornando-as caras e necessárias, de onde os desejos de vingança e justiça com as próprias mãos esmorecem.
Dançar irrita os idiotas. Gente mal amada e pseudomoralista tem aversão à dança. Sabe que quem dança com regularidade dá menos trela para seus chiliques e suas retóricas vazias, como dizer que "Não Dançarás" é o 11º Mandamento. Quer irritar esses manés? Dance.
Dançar derruba barreiras sociais. Bons dançarinos não olham para cor, time, religião, biotipo ou bolso, somente para a competência do par. Se este souber o que está fazendo, é ele mesmo.
Dançar reduz a conta na drogaria. Medicamentos contra depressão, reumatismo, para a circulação, menopausa, tensão pré menstrual, prisão de ventre, acne, má nutrição, bloqueios de criatividade, insônia, enfim. Dançar só não é bom contra óbito, quando Lady Death chega, não há mais o que fazer; mas quem dançou vai muito mais aliviado.
Dançar é barato. Na verdade, dependendo da competência dos dançarinos, nem aparelho de som é necessário. O par combina a música, sincroniza e vai se lembrando enquanto dança.
Dança deveria fazer parte da grade de educação física de todo e qualquer colégio. Os professores das disciplinas ordinárias agradeceriam. Teriam alunos mais calmos, disciplinados e atentos, sem a agressividade que a "educação física" normal incentiva.
Dizer que dançar não é uma actividade intelectual é ignorar que o cérebro faz parte do corpo, e que ele precisa trabalhar para que a dança saia bem feita. Além de demonstrar uma imensa ignorância; Nunca ouviram falar em tango? Embora tenha na Argentina o seu maior pólo, é de origem alemã. É exacta, precisa, forte, disciplinada, quase marcial. Quem assiste a um espetáculo de tango, vê duas pessoas imprimirem nos próprios corpos um controle digno dos melhores cirurgiões do mundo, só que em movimentos amplos e sedutores.
A idade avançada diz quem dançou ou não, na juventude, a desenvoltura de um corpo condicionado á dança é de surpreender qualquer geriatra que não dança, um geriatra dançarino não se surpreende senão por a dança não ser uma prática generalizada, dados os benefícios que ela oferece de graça.
Que mais? Que mais? Mais nada. se eu for falar de dança tudo o que se deve falar, o blog será só meu e terei que actualizar com textos gigantescos todos os dias. Então, vão dançar.

3 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Deu votnade de sair dançando... pena que tenho cintura dura e dois pés esquerdos... :(

Nanael Soubaim disse...

Sem bronca, broto, dois pra lá e dois pra cá até o saci faz.

Nanael Soubaim disse...

Ummm... Terei que pensar em mais um texto de emergência.