sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

E agora...

Era hora de fazer alguma coisa. Ele não havia ganhado tanto dinheiro porque aceitava facilmente qualquer situação. Tinha que fazer alguma coisa. E não aguentava os gritos.

Começou a tatear à sua volta. Só havia uma fraca luz de uma única vela. E a sala parecia grande.



Começou a bater nas paredes, procurando um som distinto que lhe mostrasse onde era a saída. Bateu, bateu, bateu... Até que um som se diferenciou dos demais, e um guarda começou a gritar do lado de fora, mandando que ele ficasse quieto.

Realmente, ele era um profissional. Profissionais tem seus macetes.

De uma parte escondida do casaco, tirou uma pequena serra. E do bolso, um isqueiro. Conseguiu enxergar a tranca da porta, e começou a serrar, aproveitando quando os gritos ficavam mais altos. Cada grito doía em sua alma. Mas ele tinha que continuar.

Quando finalmente conseguiu, tomou todo o cuidado necessário. Aproveitou uma pausa nos gritos dela (deveriam ter dado tempo para que ela descansasse antes de reiniciar... Métodos de tortura...) e se afastou da porta, pelo lado. Começou a gritar, como se estivesse com dores. O guarda correu para a porta, e sem saber de nada trombou com ela achando que ela o escoraria. Mas a porta se abriu, e o guarda caiu no chão. Quando olhou para cima, só viu um vulto.


Um passo já estava dado. Tirou a arma do guarda, pegou uma pequena lanterna que estava numa mesa ao canto. Notou as escadas, e começou a subir. E os gritos ficavam mais altos.



Ao chegar no andar superior, encontrou o motorista... Aquele mesmo que o havia enganado. Estava de costas, olhando para uma pequena televisão. E bebendo algo que parecia whisky. Escondido em seu sapato, havia um canivete. Pegou-o, e se aproximou do motorista. Serviço silencioso. Ele gostava assim.

Chegou bem perto. Ia aproveitar a distração do motorista com a televisão. Encostou a lâmina no pescoço da vítima. Mas o motorista disse: "Você não vai fazer isso."



Em outro caso, ele teria ido com tudo. Teria rasgado a garganta da vítima antes de pensar. Mas o pequeno homem moreno desatou a falar.

"Você não vai fazer isso. É a busca por sua alma, por tudo aquilo que você sentiu falta durante toda sua vida. É a busca por paz, dentro de você."

Ele apenas fitava o motorista. As palavras faziam sentido. E o motorista sabia.

"Ela roubou dinheiro da minha patroa. E foi bastante" disse. "Usou o dinheiro em apostas. Sabe como é esse negócio. Minha patroa só quer deixar as coisas no lugar certo, pra mostrar quem é que manda... Você sabe como é isso..."

Sim, ele sabia. Não se deve ficar devendo pra qualquer criminoso. Ou ele tem o dinheiro de volta, ou quebra sua pernas. Ou seu pescoço. Ele mesmo tinha executado vários devedores, de vários chefes, em várias cidades.

"Mas isso é pra mim, e pra minha patroa. Pra você, é diferente. Ela te tocou, não foi?"

Sim... De um jeito estranho, mas ela era a realização dos sonhos dele. Era uma possibilidade de ser comum, normal, uma vez. E a sensação era ótima. Ele só queria fugir com ela. E esquecer de tudo, e de todos os fantasmas.

"Aí é que está, meu filho. Essa é a escolha que vai salvar sua alma. Ou não. Eu vou embora. Não vou interferir. Mas eu devo lealdade à minha patroa. Passar bem. Ah, elas estão no andar de cima."

Ele viu o pequeno homem ir embora. Ainda não sabia o que fazer ou pensar. Sabia que uma decisão precisava ser tomada. E teria que ser logo.

Subiu o novo lance de escadas. Havia 3 quartos, e apenas de um vinha luz. Ele arrombou a porta, esperando encontrar sua cliente, o torturador e ela.

Sim, exatamente eles.

Um único tiro para o torturador, que caiu de cara no chão e assim ficou.



A arma agora apontava para sua cliente. Mas ela era uma raposa velha. Já estava com ela, de escudo. Segurava os cabelos dela e lhe apontava uma arma.

Ele tinha que tomar uma decisão.

Pensou em todas as possibilidades.

Fechou os olhos por um momento.



E já sabia o que fazer.

2 comentários:

Nanael Soubaim disse...

J'aime film noir. É violência na dose certa, que pára antes de se tornar banal.

Luna disse...

Muito bom, Fio! Você e seus mistérios...