sábado, 27 de dezembro de 2008

Quadradando

Vocês pensam que sou antiquado? Pensam vocês que tenho gostos do tempo em que o onça era um filhote? Acreditam mesmo que eu traria, se pudesse, os anos 1940 e os adaptaria ao século XXI? Acham que eu tenho cara de faraó? Pois àqueles que responderam "sim" a todas as perguntas, meus parabéns. Acertaram.

Ontem procurei o sítio da Jantzen, que conheci graças à obra de George Petty, seu maior e mais icônico ilustrador. É uma marca que completa cem anos em 2010, cujos maiôs estacionaram nos anos 1960. Pois acreditem, têm muita demanda e são caros. Não são as chamadas roupas com "atitude". Para quem não viu a propaganda nos intervalos comerciais das novelas, não se preocupe, não é lerdeza tua, o público que eles atendem não perde tempo com porcaria. Ainda se fosse nos tempos da Pão-Pão Beijo-Beijo ou Os Imigrantes, quem sabe, mas não as manequices politicamente patéticas de hoje. Não são para quem aprecia frutas de glúteos grandes, são para mulheres que compram uma peça boa em vez de seis ruins. Para quem não sabe, melancia velha murcha rápido.

Há alguns anos deixei de usar espherográphicas, como já citei noutro texto, desde então quase que só uso bico de pena. São canetas relativamente caras, mas são para a vida toda. E não estariam nas vitrines se não houvesse demanda, como a minha. Tenho uma amiga que aprendeu a escrever com uma tinteiro, uma mulher jovem e bonita, mais jovial do que a imensa maioria das adolescentes.

Há mais de um ano deixei de comprar prêt à porter, as pólos que ainda tenho estão envelhecendo e serão substituídas por camisas sob medida, feitas pelas mãos de anjo do meu amigo José Antônio Ferreira, alfaiate há mais de trinta anos. Calças jeans já não uso mesmo há uma década ou mais, as de alfaiate me agradam muito, são muito mais confortáveis. Vem gente da Espanha que, passando férias por cá, lhe faz encomendas, pois lá já não se encontram roupas sob medida sem que se pague os olhos da cara. Roupas na medida certa, nem apertadas, nem folgadas. Infelizmente o Zé ainda não tem site, nem mesmo e-mail.

Não sei quanto tempo faz que não uso tênis. Vamos ser sinceros, há sim sapatos muito mais confortáveis do que a maioria deles. Francamente? Foi-se o tempo em que mesmo a aparência me era simpática, tempo das antigas Conguinhas em sua austeridade e confiabilidade. Todos parecem ter saído do triturador de papel, tamanho o número de remendos. Já não sou adolescente, não tenho qualquer intenção de me destacar na paisagem ou parecer um "manô, da peripheriá", muito menos imitar competidores pseudo-olímpicos.

Dei de presente para a nossa amiga Clarissa Passos, aquela que esquenta chá com aranha no microondas, duas marchinhas de carnaval, que ela pretende fundar um bloco no ano que se avizinha. Eu gosto de marchinhas, as prefiro aos samba-enredo que já me enfadaram há décadas, assim como as peruas que ficam babando na mesa, começam a pular e exibir o silicone quando a câmera as focaliza, para depois voltarem a babar deprimidas na mesa. Já trabalhei em "festas" de carnaval nos anos 1980, sei do que estou falando. Como disse a mestra Eddie Van Feu, se o teu conceito de diversão imprescinde de bebedeira, é melhor revê-los; incluo aqui a vontade de transar no meio do salão, diante das câmeras só para parecer moderno, macho, ou descolado. Não há alegria nesses eventos. Os Bexiguinhas de Mauá me vingarão! Ah, ah, ah, ah, ah, ah!

De um anos, mais ou menos, para cá, deixei de rezar o Pai Nosso, a Ave Maria e o Salve Rainha. Agora rezo Pater Noster, Ave Maria e Salve Regina. Tudo em latim. Não, não é para agradar ao Ratzinger, embora ele pule de contentação se souber. Faz muito mais sentido e, para quem estudou religião à sério e sem tentar se defender de idéias que não conhece, sabe que faz diferença, tanto ao espírito quanto ao sistema nervoso central. Isto vale também para diferenciar as boas das más músicas, estas só estimulam a virilha, esvaziando todo o resto.

Sou moderníssimo em minha mentalidade, chego a ser subversivo para muitos conceitos e preconceitos. Naquilo que faz diferença, naquilo que realmente é importante, estou séculos adiante da massa humana. Não sou descolado, estou inteirinho da silva. Natal, para mim, não é para se embebedar e destruir um carro novinho em cima de uma criança que atravessava a rua. Não me importo com a nudez, conheço moças que mal tampam as nádegas e cruzam as pernas sem aparecer nada, deselegância é mais questão de atitude (aqui sim, cabe o termo) do que de comprimento. Uma cousa não é moderna só porque foi lançada hoje, há menos de um minuto. O machismo não é moderno, mas tem sido valorizado pela mídia, com roupagem "moderna".

Vamos falar sério, as cousas boas evoluem por si mesmas. Quando seu ciclo termina, se transformam noutra espontaneamente. Se gostar dessas cousas boas, que mal chegaram a ser aproveitadas e já são até discriminadas na pele de quem as aprecia, é ser quadrado, então sou um cubo. Porque já faz tempo que demonstrar educação à mesa, pedir licença e admirar uma bela moça sem tentar agarrá-la é motivo para discriminação. Sinto isto na pele. Sabe que mais? Às favas! Quem paga minhas contas sou eu.

4 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Amei!
E principalmente isto:

Sabe que mais? Às favas! Quem paga minhas contas sou eu.

Nanael Soubaim disse...

Sim, desde os cinco anos, amiguinha, apesar dos inúmeros tropeços. Cuidado com a tua boa educação, podes ser segregada pos causa dela. É sério.

Anônimo disse...

Belo texto. Trás uma discussão interessante sobre a modernidade, adorei!
A parte que mais gostei (além da que a Adriane citou) foi "Vamos falar sério, as cousas boas evoluem por si mesmas." a mais pura verdade...


Feliz Ano novo pra todos vcs do Tali-coisa!

Luna disse...

Não se preocupe, Nanael. É isso o que te faz único.