sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Mas ele...

Ele olha fixamente para o retrato. Nele, um homem e uma mulher sorriem, abraçados. Mas ele não os conhece.

Logo ao lado, um pequeno mosquito passeia sobre as marcas de água deixadas pelo copo de whisky. Mas ele não bebeu nada.

Do outro lado, um maço de cigarros amassado, com três cigarros mais amassados ainda dentro dele. E um isqueiro bem velho e bem vagabundo. Mais ao lado, um cinzeiro cheio de cinzas e tocos. Mas ele não fumou nada.

Virou os olhos para o outro lado do quarto. Mas ele não havia dormido ali.

Um homem e uma mulher estavam na cama, os lençóis jogados para um lado e para o outro. Roupas jogadas no chão. Aqui um vestido amarrotado. Ali uma camisa branca, com uma mancha de batom vermelho. Mas ele não havia se divertido ali.

Na parede, um quadro com uma paisagem litorânea. Uma pequena casa com teto de palha, areia em volta, o mar ao fundo. Algumas palmeiras do lado, e bem no canto e ao fundo, uma pequena jangada que sumia no horizonte. Mas ele nunca havia ido à praia.

Do outro lado, uma janela. O vidro aberto. Uma cortina branca e amarela. Bonita. Mas ele não sabia o que daria pra ver dali.

A televisão ligada, passando um programa jornalístico. O repórter dizia coisas que ele não era capaz de entender. Nem de ouvir. Mexeu nos botões, mas som algum saía. Mas ele não queria ver nada.

Se aproximou da cama. O sangue escorria por debaixo dos corpos. Molhava toda a cama. A bala penetrou o corpo de ambos, de uma só vez. Dá pra imaginar como foram pegos. Mas ele não queria ver aquilo.

Logo, a perícia chegaria para examinar o local. Seu trabalho ali já estava feito.

Saiu pela porta ao lado do quadro. Pegou o telefone, discou um número e disse: "Está feito" e desligou.

Saiu pela porta da frente do motel. Ligou para a polícia, dizendo que um casal havia sido assassinado.

Passou no banco, o pagamento já estava lá.

Entrou numa agência de viagens. Comprou uma passagem só de ida para uma praia distante.

Entrou num bar. Pediu um whisky. Um maço de cigarros e um isqueiro.

9 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Fantástico, Fio!
"Noár"... ehehhe! Parece tirado de um romance plicial. Eu posso até ver a neblina no deck, porque claro que esse motel é à beira-mar!

Adriane Schroeder disse...

à Beira-mar não quer dizer necessariamente qeu ele esteve na praia... hahaha.. não no sentido estrito, certo?
Mas pode ser um grande rio também. Eu deixo. :P

Edu disse...

¬¬

Falo nada pra vc, Adri.

Anônimo disse...

Adorei... Como li os comentários da Adriane antes, meio que vi tudo acontecendo em preto e branco, em camera quase lenta! Mas pra mim tudo acontece em uma cidade bem urbanizada, algo como NY dos anos 50, em uma noite meio fria, onde a fumaça da calefação das casas deixam tudo mais misterioso! :D

Fico pensando... será que na praia ele achou sua mulher de vestido?

Edu disse...

Who knows?

Talvez esse texto ganhe continuação..... Já que tá todo mundo levantando idéias...:P

Mas valeu, Paulinha! ^^

Luna disse...

Adorei. Continua.

Anônimo disse...

Ficou uma beleza, Fio!!!! Continue assim!

Nanael Soubaim disse...

Contuinua, quero ver como ele e o mandante serão presos... se não forem, eu mesmo preparo o castigo à minha maneira.

fabio_ disse...

Alguém vai pagar peitinho?