sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Mas ele, outra vez...

As areias eram mais brancas do que ele pensava, ou tinha visto em fotos. Entrava pelos vãos dos dedos. Era fofa, no começo... Mas ia ficando úmida e dura, até chegar à água. A água era gelada, mas esquentava conforme ele se mantinha nela.

A imensidão do mar era impressionante. Por um momento, se lembrou da professora de Geografia dizendo que o planeta era quase todo mar. Professora Adriane. Ele nunca esqueceu dela. Foi sua primeira vítima. Uma pequena injeção do veneno certo, durante um exame médico. Ela jamais soube de onde veio. Havia sido contratado por uma esposa traída.

Voltou à cadeira, embaixo do guarda-sol. Pegou seu whisky. O gelo havia se desfeito, com o calor escaldante que fazia. Os cigarros haviam acabado. Levantou-se e recolheu tudo, e voltou ao Hotel.

Banhou-se, e deitou na cama. O dinheiro sempre era bom, mas tinha a mania de gastar muito, também. Um sistema de compensação, por manter sua alma em débito com o Inferno.

Desceu para o jantar. Alimentou-se bem, e foi passear. Comprou cigarros. Sentou-se num banco, no calçadão. Um homem pequeno, de pele morena e feições brejeiras, sentou-se ao seu lado.

Tinha um certo brilho no olhar. Virou-se pra ele e disse: "Você ainda não perdeu sua alma. Mas tome cuidado". O pequeno homem lhe deu uma corrente com uma estrela de 6 pontas como pingente, piscou para ele, pôs um óculos escuro e foi embora.

Ele olhou novamente para o mar... Mesmo com a escuridão, era lindo ver tudo aquilo. Uma mulher morena, e ainda menor que o homem que havia lhe proferido a enigmática sentença, se dirigia à ele. Ela olhou bem no fundo dos seus olhos e disse: "Tenho um serviço pra você."

Ele a ouviu atentamente. O serviço era na própria cidade. Não teria gastos com transporte, e receberia o dobro do normal. Mas teria que deixar o mar... Por enquanto.

Aceitou o serviço, e voltou ao Hotel. O serviço deveria ser executado naquela mesma noite. Arrumou seus apetrechos, as malas e as despachou. Carregava consigo apenas o que era necessário. Fechou sua conta. E se dirigiu ao endereço.

O endereço era de um pequeno bar, escondido da agitação das avenidas. Entrou, e pediu uma mesa, para o atendente. Um rapaz moreno, de óculos, e que falava estranhamente. Enquanto se dirigia para uma mesa no canto, passou por dois homens que discutiam Sartre e Nietzche, Wittgenstein e Melanie Klein, e vez por outra diziam "copo de leite light" e "chiclete de maracujá diet" e riam-se.

Sentou-se e ficou observando. A vítima ainda demoraria a aparecer.

Ao lado, no bar, uma moça pequena, de cabelos longos e escuros, preparava drinks. No cardápio, drinks com nomes estranhos como "Siacabância", ou "Piroca Havaiana on the Beach". A moça gritava os nomes dos drinks conforme os preparava. A música ambiente era música folclórica local.

Na hora determinada pela cliente, a vítima apareceu por entre as cortinas. Um homem pequeno, de olhos tristes e boca carnuda tocava o piano.

A vítima estava num vestido preto, com fendas e decotes. Os cabelos negros. A pele branca. A boca carnuda e vermelha. Os olhos verdes.

Ele teria como fazer o serviço dali mesmo. Mas não conseguia se mexer.

Ficou hipnotizado pelos olhos verdes. A voz doce. E aquele corpo...

Ela se movia com graça pelo pequeno palco. A voz encantadora fluía pelo ambiente.

Aquele seria o mais difícil de todos os serviços.

Mas ele, outra vez, tinha que cumprir o serviço.



E ele aguarda...

8 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Fantástico, Fio!!!
Morri umas seis milhões de vezes, fora a que você me matou no texto!
tudo bem que você me atribuiu um conceito errado (a Terra só aparentemente tem mais água.. a gente nunca conta as camadas interiores... rss) e a disciplina errada, mas... É só "fiquissaum", enttão eu te perdôo...
Brincadeirinha! Amei a homegagem e o texto, ficou leve e divertido.
Adorei o nome dos coquetéis, a gente tem que patentear isso antes que alguém copie!
E, por favor... queremos continuações!
:)

Edu disse...

Valeu, Dri!

É só uma pequena homenagem aos amigos do TC.

E lanço a enquete pra ver se alguem descobre quem é quem.

:P

Adriane Schroeder disse...

Eu sei quem é queeem, lalalalalala...
Hhauhauhauhau, mas jamais ninguém saberá por mim!

Rafaela disse...

Eu sou a moça do serviço ou a moça dos drinks????

Nanael Soubaim disse...

Vá em frente, o enredo supera em muito a canastrice generalizada que os estúdios têm lançado.

Edu disse...

Vc é a cliente que encomendou, Rafa.

E irei em frente sim, Nanael. Aguarde e confie.

Davi Coelho disse...

Meu DEUS! Eu tô na mesa conversando com o Fabim!
MORRI, Fio!
haahahahahahahaahahahh
Ta ficando ótimo! Uma história tão boa que nem precisa dos Talicoisers estragando a tensão!

Beijo de leitch light

fabio_ disse...

Na verdade, falávamos sobre paisagismo, Dave. Ele que quis deixar mais bonito.
E tomávamos milk shake de maracujá diet com chocolate derretido.