segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Duas rodas e algumas historinhas

Uma vez, no Natal, eu e meu primo ganhamos bicicletas iguais, exceto na cor. Tudo para não dar briga. A minha bicicleta era vermelha, a dele era azul.

Falando em Natal, bicicletas são os pedidos mais recorrentes de quem escreve cartas para o Papai Noel dos Correios. O mais legal é que muitas pessoas pedem e acabam levando.

Quando ganhei minha bicicleta vermelha, fiquei muito feliz. Mas nunca consegui aprender a andar sem rodinhas. Com o tempo, a coitada foi deixada de lado. Posteriormente, foi doada, não se sabe para quem.

Falando em Natal, de novo, uma vez fomos assistir à Chegada do Papai Noel, num estádio. Na entrada, cada criança ganhava um cartãozinho, com um número. Meu irmão foi sorteado. Ganhou uma bicicleta.

“Ganhou a bi-ci-cle-ta!”. Era essa frase que o Bozo dizia, euforicamente, quando uma criança sorteava uma na Urna da Alegria. A bici (naquele tempo, não se dizia bike) era o prêmio máximo do programa.

Foi com essa bicicleta que eu finalmente aprendi a andar. Já tinha dez ou onze anos. Uma velha! Sentei na bici e minha mãe foi me empurrando e conversando comigo. Igual a gente faz quando vai tirar sangue. A enfermeira puxa assunto, para você não se lembrar de ter medo. Falei com a minha mãe e ela não respondeu. Só aí percebi que estava andando sozinha! Fiquei dividida entre prestar atenção no caminho e me emocionar com o fato de ter aprendido.

Depois de aprender a andar de bicicleta, pude participar das brincadeiras sobre rodas das crianças da minha rua. Nós dávamos voltas e mais voltas, corríamos, fazíamos revezamento, cantávamos. Nossos cachorros nos acompanhavam. E ainda tem gente que prefere gatos...

Um dia, eu caí. Em cima de uma pedra pontuda. Furei o joelho. Foi só a pele, não o osso. Saiu muito sangue. Ganhei uma cicatriz. A única que tenho, pois fui mocinha bem comportada na infância. Continuei correndo. Era bem mais legal do que andar.

Quando eu cresci, passei a só andar de bicicleta na praia. Até que fui veranear na casa do meu tio. Ele só tinha Barra Circular na casa. Nem morta que eu ia andar numa daquelas! Não era só frescura: eu não alcançava nos pedais. Ainda não alcanço, acho. Acho nada: tenho certeza.

A capa de Chinese Democracy, disco do Guns que levou milênios para ser lançado, exibe uma bicicleta com uma baita cesta de vime no banco traseiro. Este cd foi o presente de Natal que dei a mim mesma.




Eu queria ter escrito um texto sobre o Natal. Tudo o que eu consegui foi lembrar de bicicletas...

3 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Uma delícia de texto. Bicicleta era o sonho de consumo segundo o Sílvio Santos. E tinha aquela propaganda do "Não esqueça a minha Caloi"... eu nunca tive bicileta, nem nunca aprendi a andar, um dos traumas de minha infância.
Acho que a bicicleta faz parte do imaginário coletivo, né?

Nanael Soubaim disse...

Pois conseguiste falar de Natal, ainda que aos tombos.

Edu disse...

Texto que concorre ao prêmio "AWWNN" do TC.