sábado, 6 de dezembro de 2008

Do covarde, a misoginia

Foi um ataque surpresa. Quando aquele arremedo de aldeia estava planejando as actividades do dia, o grupo de nômades, só de homens, surgiu do nada e de todos os lados, atacando e subtraindo tudo o que estava ao seu alcance. Um dos aldeões derrubou a criança que carregava e correu para se salvar enquanto os outros lutavam, mas foi pego por dois invasores e surrado, enquanto via a criança ser levada pela mãe para um lugar seguro.
As mulheres levaram seus rebentos e os outros que encontravam para um recanto seguro, de difícil acesso, mas próximo o bastante para que a ajuda não tardasse, se necessária. Elas poderiam bem ter ficado e lutado, mas a prole era grande e mesmo as solteiras agarraram quantas crianças conseguiram para garantir a continuidade da comunidade.
Quando podem voltar, elogiadas pelo homem que as foi avisar, pela presteza e raciocínio rápido, encontram o covarde bradando. Como as testemunhas foram mortas, ele mente que a falta de guerreiros capazes causou as baixas e que quase se inclui também, ainda aponta a mãe da criança que abandonou, afirmando que ela preferiu fugir a ajudá-lo.
O debate seguiu acirrado, dentro do que a linguagem limitadíssima da época permitiu; foi um custo explicar que "A mulher protegeu a criança" e não "O lobo comeu a pêra", já que os phonemas eram quase gêmeos e não havia gramática para ajudar. Mas ficou decidido, com a palavra empenhada pelo guerreiro que as buscou, que elas estavam defendendo os filhos e não fugindo da luta. O chefe ainda lembra da tragédia que ocorreu há quinhentas luas (quase dez anos) quando aquele mesmo bocó convenceu as mulheres de que a melhor forma de proteger as crianças, era ficar e lutar. Um terço dos petizes foi morto ou seqüestrado. Veredicto: elas agiram certo e deveriam continuar agindo assim.
Muito magoado, o covarde e mais meia dúzia de trouxas que lhe acreditaram na palavra abandonaram a aldeia. Espalharam entre os nômades que encontravam que era melhor que ficassem sozinhos mesmo, que mulheres são fracas, covardes, egoístas, et cétera. A mobilidade desses nômades espalhou rapidamente a mentira, em poucos séculos o que era uma estratégia magistral de defesa da espécie, se tornou um símbolo de fraqueza imperdoável. Por onde a mentira vingou, as mulheres foram afastadas das tarefas preparatórias para a luta, e desaprenderam a lutar, dando mais força à mentira. As que eram abandonadas pelos pares, sem acesso a apoio social, passaram a emprestar prazer por comida, dando forma ao que conhecemos como prostituição, que alimentou ainda mais a mentira, mas desta vez uma mentira muito conveniente.
Não há diferenças significativas entre a ficção acima e a realidade, pois pode muito bem ter acontecido. E sabemos que os antigos, principalmente os romanos, eram hábeis falseadores da história, quando não lhes era conveniente.
Sabe aquele hábito dos árabes esconderem as mulheres de estranhos? Certamente remanescentes de quando a intenção era não dar pistas da prosperidade da aldeia, o que hoje é inútil, mas foi deturpado. Nada tem a ver com o Islã, que é historicamente recente. Com a misoginia, a mulher se tornou posse dos homens da família. Quem acompanha os acontecimentos do Paquistão sabe dos horrores que falo, me reservo o direito de não estragar este blog com detalhes revoltantes.
Só nos últimos cem anos, muito timidamente, o quadro começa a desvanecer e a mentira começa a perder força. A América foi criada em bases machistas, embora não o admita. A beligerância ostensiva e a hoje dependência dos americanos em relação às armas é o exemplo mais cabal. A prioridade de uma mulher é defender a cria, o homem, sem ter que amamentar e proteger, usa de quaisquer expedientes e pretextos para se impor ante os outros, ainda que cause um genocídio. Não foi por acaso que eles apoiaram os nazistas, até que estes mostrassem suas garras e ameaçassem seu território, ainda que muito subliminarmente. Os nazistas, aliás, foram extremamente rígidos na determinação de onde e como as alemãs deveriam ficar: sala de estar, cozinha e cama.
Já são vinte milênios de civilização patriarcal, aproximadamente. Progresso? Vou te contar uma cousa, o mundo só evolui quando as pessoas param para se entender. Os ditos "avanços" que as guerras trouxeram já existiam, só foram postos em prática para alisar os egos fálicos. Avanços esses que, em sua maioria, têm uma única mãe: Heddy Lamarr. Toda a tecnologia de telecomunicação que há hoje, inclusive a internet, se embasa nas pesquisas dela, que em vez de brigar, se pôs a resolver problemas, como boa mãe que era. E que tinha vergonha de ser compatriota de Hitler, tanto que deu todas as idéias para os aliados. Um homem teria tido esse desprendimento? Difícil, muito difícil. Por pouco que fosse, teria cobrado direitos intelectuais e ganho muito no volume de produção. Heddy só teve os feitos divulgados pela filha após seu desencarne. Quando as pessoas guerreiam, não há troca de informações e os avanços ficam mais difíceis. Não digo que uma nação não deva se defender, experimente bater numa criança à presença da mãe... e reze. Mas o que tem acontecido nos milênios de misoginia foi nego declarando guerra por puro orgulho, com desculpas como "espaço vital da nação" ou "recuperação de uma província rebelde". Este último é o lema da China para ocupar e oprimir, com a aquiescência das Nações Unidas, o Tibet. E a China hoje comanda a ONU.
Como seria o mundo se aquela mentira não tivesse vingado? Não haveria machismo, logo o feminismo azedo também não existiria. Como as líderes reconheceriam bem a dor de uma mãe que ouve o filho chorar de fome, esta seria um estímulo temporário comum, não uma tragédia mundial. Os homens seriam educados para serem homens, não simples cachorros de combate. Aliás, viram homens de saia? Não? Os escoceses usam kilt, que é um tipo de saia e ai de quem chamar de saia, um dos esportes preferidos deles é, literalmente, levantamento de caminhão. Bem, o facto é que nenhum deles perdeu as bolas, não por causa do kilt. A pressão católica não suprimiu de todo a cultura celta, que está ressurgindo com força, e os escoceses não se importam em usar algo parecido com o que suas esposas usam.
Um último exemplo é a Alemanha de hoje. Mesmo com recessão, causada por blefes de homens sérios e respeitáveis, está conseguindo sustentar a credibilidade do Euro, mantendo-o bem acima do Dólar. É a Alemanha de Angela Merkel, que mesmo com aquela cara de sargento herói de guerra, é uma mulher. É a Alemanha da paz, que aprender com seus erros e hoje não ataca se não for atacada, e ai de quem atacar, que não teme parecer politicamente incorrecta por amadrinhar Israel (Está ouvindo, Adolf? Ah, ah, ah, ah, ah...) em uma época em que o Estado é visto como vilão. Foram os homens da ONU que o enfioaram na Ásia, em vez de ceder um território dos próprios aliados. Foi o egoísmo machista que acendeu o estopim em uma região que nunca foi mole, mas nem de longe tinha os níveis de violência de hoje.

1 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Está longe de entendermos como e quando essa misoginia foi criada, mas talvez esteja perto de nós, mulheres, pararmos de ensiná-la e perpetuá-la...