sábado, 5 de julho de 2008

Tragi-sexomédia



Muito mais do que a devassidão, a promiscuidade e a gratuita apelação, o sexo perde sentido quando gera a escravidão.


Três filhos eram, um só varão, o mais velho. Pai orgulhoso, punha cerveja em seu bico, o pênis do petiz exibia às meninas de mesma idade. Mas as suas, ahá, eram no cabresto velho, cobertas do pescoço aos pés e punidas se imaginassem contrariedade.


O garoto, porém, não via sentido naquilo. O pai falava em justiça, as faltas alheias condenava, mas era tirano em casa, onde sexo era sigilo, mas o filho já agrediu e fez beijar um mamilo.


Bíblia sempre aberta para que todos vissem, discursos moralistas berrados a plenos pulmões, mas eram dois pesos e medidas para que os falastrões aplaudissem. Aos oito anos o menino, à força, já transara com uma meretriz qualquer, para dar satisfações de viriladade aos outos homens. Mas, hein!!? Isso de se exibir para homem não seria homossexualismo? Acordou uma semana depois, no leito de hospital, após ao pai perguntar isso. Homossexuais eram aberrações e por isso deveriam ser destruídos, era uma de suas leis, paralelas à "Não Matarás".


O ateísmo batia à porta.


Com o tempo e a maturidade, conhecendo um D'us de verdade, que não estava em um trono cercado de mulheres e não jurava vingança nem qualquer barbaridade, o garoto orou com fervor para não mais ser sujeitado àquele absurdo. A prece atendida, ele broxou e nada mais o fazia ter desejos carnais, aos quais estava surdo. Solução drástica que fez um drama se desenrolar, seu pai vendeu a casa da família para o pênis do filho curar. O garoto pouco importava, só queria ter sua fama de masculinidade perpetuada, mas tornou-se alvo de pilhérias mordazes no seio dos grupos que freqüentava; a fama estava arruinada.


Assassinou a esposa que tentou impedir e espancou o filho até seu corpo cair. Alegou uma honra bárbara que o juíz, seu semelhante e em própria causa, acolheu feliz. Sua fama estava reposta.


O garoto fugiu do hospital tão logo pôde andar e seguiu a esmo para qualquer lugar mais civilizado. Em plena exaustão encontrou uma mão sem machismos, de um Francisco irmão que o encaminhou ao mosteiro de monges amigos. Comedimento era a regra de ouro, qualquer desperdício seria mal visto e a disciplina precisava ser exemplar. Para quem saiu do inferno, qualquer lugar serve para morar.


Não se viu livre do sexo, mas suas experiências contou para nisto aos jovens orientar. Tantas doenças contraiu que já parecia um ancião, sobreviveu pela graça de enfermeiras que desrespeitaram as determinações do médico machão. Foi ensinado pelos monges a não guardar rancor, que sexo era cousa de D'us e por isso deveria ser feito com amor. Amor que o neófito não conheceu. Amor, disse o abade, não é um sentimento que se sujeita às nossas emoções, é a prática contínua e determinada de quem o cultiva como a uma flor. Com a prática, tudo se fortalece, o amor, a fraternidade e até a prece.


Tornou-se professor de uma escola filantrópica, falava de sexo. Não de perversidade, não da perdição que conheceu e pela qual quase pereceu. Sempre dizia "Saibais porque fazeis e com quem fareis, se assim o for, será bom". Era seu filho cada aluno da escola, os amava pois sem condições. Não era disso que falava aquela bíblia empoeirada? Da qual lhe foram apresentadas todas as traduções e reveladas todas as distorções que a política medieval impregnava. É preciso ir além do que nos for apresentado, seguir à raiz para não acreditar que o fruto surgiu do nada, pronto e acabado.


Os anos passaram e as rugas e manchas deram lugar ao rosto de um maganão bem apresentado, um homem que falava de sexo de um modo que não se lhe repreendiam, pois buscava saber a quem daria seu recado para não causar escândalos vãos, e os tabus aos poucos sumiam. Não se fala um palavrão para gente recatada, bem como termos técnicos não interessam à mais depravada. Sempre sóbrio, sempre alegre, a força do sexo subiu ao coração e rejuvenesceu, curou, tornou sapiente o franciscano garotão.


Com vinte anos de mosteiro, vieram as irmãs a pedir bênção. Mostraram seus filhos, os menores ora batizados pelo tio. Disseram que o pai morreu na bala de um marido enfurecido, mas já o tinha deserdado, pelo que trouxeram um terço, cada uma, de sua parcela na herança. Que o encontraram pela fama que, confessam, causou espanto...


- Minhas irmãs, disse com pausa, o homem a tudo perverteu e com o sexo não seria diferente. Ou achais que o Rei Davi pecou tendo filhos? Não confundais a lâmina com a mão que a move.


Mudaram-se as irmãs para a cidade do mosteiro e engajaram-se na labuta do irmão, que sempre diz: Sexo é bom como bombom, que quando se estraga até mata. Só que eu sou diabético. Não é o sexo que corrompe as pessoas, são as pessoas que corrompem o sexo. Assim como o dinheiro, o poder, a beleza e toda a diversidade da criação perpétua. Na dúvida, não faça.

Tudo, entretanto, corria em segredo de Estado, pois a igreja a qual o mosteiro estava ligado reprimiria todo e qualquer esclarecimento explícito. Mas eles não queriam fama, só mostrar que o pecado não estava na beleza, no natural rebolado nem no biquini bem cavado, morava mais no coração mal amado.

Conheceis a Verdade e ela vos libertará. Quem a conhece ama.


Participação 'Chuchu Beleza' no Especial Talicoisa Porn Week.
Obrigadíssimo, Mestre Nanael Soubaim.


5 comentários:

Anônimo disse...

Nanael nunca deixa de nos surpreender com sua veia poética.
Beijos, lindo!

Marcelo Leite disse...

surpreendente.

Panda disse...

muito bom
a historia eh envolvente
nem percebi q o texto era grande
gostei bastante


http://terradafenix.blogspot.com/

fabio_ disse...

... são as dores de quem se mete a questionar.

Luna disse...

Muito, muito lindo. Agora eu entendi o significado de "Só o amor vale a pena".