domingo, 15 de junho de 2008

Deus: um ensaio sobre o homem

Em recentes discussões com Dave Coelho, acabei me deparando com aquele inevitável axioma acadêmico: “Deus não existe”.

Acadêmico, pois, desde Sartre (como já dito mais de uma vez neste blog) é “chic” dizer que Deus não existe. Na verdade, desde Nietzsche. Na verdade, já fazia tempo que as pessoas sentiam vontade de negar Deus.

Mas o Deus católico. Castrador. Impossibilitador. Que punha os senhores feudais e servos em categorias diferentes de ser humano. E depois, o cristão diz que o sistema de castas da Índia é desumano...

Enfim... Já devia fazer um tempo que as pessoas não agüentavam aquele sistema. Acho que até por isso, a burguesia e o capitalismo cresceram e destruíram o sistema feudal. As pessoas não agüentavam mais ficarem presas a uma vida só.

O capitalismo permitia a ascensão social. Permitia ir mais longe. Inclusive, permitia comprar indulgências (pra quem não sabe, a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana vendia a entrada no céu... E hoje, se reclama de certas denominações evangélicas que pregam Je$u$).

Isso motivou Martinho Lutero. Levou-o a criar uma nova concepção. O que levou ao acontecimento da Reforma.

E não foi só na Alemanha. Na Inglaterra, a Igreja Anglicana. Que mantinha o poder para a nobreza. Mas já havia um meio do povo participar das decisões, com a Câmara dos Comuns, que nada mais é que a Assembléia do Povo, para ajudar a tomar as necessárias decisões.

Até hoje, existe a nobreza na Inglaterra. Mas perdeu muito de seu poder, sendo um “cargo” apenas simbólico. Mas isso não é o ponto.

Nesse momento da História, as pessoas começaram a perder a idéia da Soberania da Igreja. Agora, você podia escolher um caminho. E com a chegada do Iluminismo, as pessoas começaram a ter coragem.

Coragem para negar. E aceitar outros termos, outras idéias. Outras concepções. Várias igrejas protestantes surgiram. Claro, houve a Inquisição, a Contra Reforma. Isso só motivou mais ainda o Protestantismo.

Com o Iluminismo, as pessoas passaram a pensar por si sós. Passaram a compreender o mundo. A Ciência se tornava o novo Deus. Mas com ele, surgiu a negação de Deus. Na verdade, o Iluminismo cedeu lugar ao Niilismo, (ou Nihilismo, que vem de Nihil, “nada”, em latim) que afirmava que “do nada viemos e ao nada voltaremos”, ou seja, então, pra que seguir um Deus paternalista, castrador, etc...?

Quer dizer: com as idéias da Ciência evoluindo mais e mais, chegou-se à determinada conclusão de que Deus não poderia existir. Deus não existindo, o Céu, o Inferno, os Anjos, os Demônios, os profetas, Jesus, tudo.... Também não existia. Conceber um “além mundo” era impossível, uma vez que era impossível provar.

Isso criou o Niilismo. Uma forma de pensar que propõe que vivemos aqui morremos aqui. Ponto. Não há céu, não há inferno, não há Deus. Não há nada. Nihil.

Nesse momento, aparece Nietzsche. “Deus está morto”, disse ele. Já disse: Nietzsche criou toda essa presepada por odiar o pai, pastor luterano ferrenho. Quer dizer... Presepada, porque não tem baseamento filosófico. “PQP, Fio! Tá dizendo que um dos maiores luminares da filosofia ocidental não tinha baseamento filosófico pra afirmar isso?!?!?!!?”.

Nietzsche: "Deus está morto. E eu também."


Precisamente.

Não só na filosofia, como em qualquer área, quando existe personalismo, quando a pessoa é levada a determinado pensamento por questões pessoais, perde a validade.

O mesmo aconteceu com Sartre, e o Existencialismo.

Sartre: "Eu vejo tudo claro à minha frente"


“O Existencialismo é uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino.”

Sartre solta:

"... se Deus não existe, há pelo menos um ser, no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significa então que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente é nada. Só depois será, e será tal como a si próprio se fizer."

Ou seja, tabula rasa. O homem não é nada, ao nascer. E o meio o molda.

E onde foi Deus, nessa estória toda?

Deus está onde sempre esteve.

Eu acredito que os homens, todos eles, tem o direito de pensar o que quiser. Assim como eu tenho a liberdade de refutar tudo o que esses homens pensam. Eles são retratos de suas épocas, Zeitgeists do que o mundo foi, em determinadas épocas.

Mas pra mim, hoje, não dizem nada. Que atacassem o modo como o homem fez e faz as coisas até hoje, eu entenderia.

Mas atacar Deus...

Muito se fala que “mais pessoas foram mortas em nome da Religião, que em nome do Ateísmo”.

Correto.

Mas em nome da Religião, meus caros. Não de Deus.



Deus: "Eu não sei de nada. Só tava dando uma passeio por aqui."

8 comentários:

fabio_ disse...

O problema é a maneira de se aceitar o que não se entende. Às vezes a gente tem que respeitar o imensurável e pronto. Sem pressa de explicar. Mas aí vêm os cientistas e estragam tudo querendo teorizar.

Nanael Soubaim disse...

A questão, Fio, é: As pessoas não têm coragem de investigar além do que lhes é confortável. O electromagnetismo (que até hoje não se consegue definir mesmo) foi descoberto e não inventado, antes ele não era sequer cogitado, mas existia, seus efeitos sempre foram sentidos. Nada sai do nada e nada ao nada vai. Mas à Mestra Nada quero chegar.

Davi Coelho disse...

Eu sempre defendo esses textos "informativos" aqui no Talicoisa.
Agora, eu penso que discutir a existência de Deus é uma coisa absurdamente infrutífera.
Existem coisas que não se podem provar. E ainda bem.
Mas o fato é que o que se discute não deixa de ser interessantíssimo.
E foi isso que o Fio explorou muito bem.
Parabéns, querido.

Melissa de Castro disse...

Gostei do texto, Fio.

Mas tenho um adendo. Quando se fala em Nietzsche eu sempre tenho um adendo... rsrsrs.

Só quero acrescentar que todo e qualquer pensamento ou ideologia ou teoria ou coisa que o valha, tem respaldo naquilo que a pessoa viveu, na época em que viveu e naquilo que lhe foi ensinado. Na minha opinião, nenhum pensamento filosófico pode ser desvincilhado das experiências pessoais. Não foi somente Nietzsche que elaborou seus pensamentos por causa da educação e da difícil relação com o pai. Se pararmos para pensar, todos os grandes pensadores tiveram experiências que, de alguma forma, foram incorporadas às suas teorias.

Bom, é isso. Eu só quis dizer mesmo... rsrs.

Anônimo disse...

Eduardo, pra mim é difícil estabelecer uma crítica aqui.
Tu sabes minha posição, como luterana; creio em Deus, o que para mim é algo simples.
Toda essa celeuma acadêmica muitas vezes aprece mais algo do ser contra porque se é contra, sem fundamento filosófico algum, só porque é bonito ficar questionando, porque está na moda, porque só se é intelectual se não se crê em Deus e se é de "ixquerda".
Gosto dos teus textos e, francamentente, estás escrevendo cada vez melhor.

Edu disse...

Mel, é exatamente esse o sentido de falar que Nietszche e Sartre foram Zeitgeists, retratos de sua época. Mas quando o persolismo de alguem, como no caso de Nietzche, influi à esse ponto, é pra se discutir.

E alguem mais não pensa que o Existencialismo só corrobora o que o Capitalismo afirma? O Self Made Man?

Enfim....

Mas obrigado À todos pelos comentários. É esse tipo de coisa que eu espero e busco quando escrevo.

Anônimo disse...

Na verdade esse texto não apresentou argumento algum para refutar nada. Então, acho que você precisa se informar mais, porque para refutar Sartre ou Nietszche é necessário comer muito arroz com feijão.

E no mais, deus não existe mesmo. E se existir que diferença faz estarmos aqui discutindo a sua existência?

Nanael Soubaim disse...

Homens é o que eram Nietszche, Sartre, Saramago e outros. Somente homens.