domingo, 1 de junho de 2008

O Caminho do Meio

Há tempos, a humanidade busca por um “caminho da felicidade”. Um caminho que leve o ser a um estado de graça, a uma vida perfeita.

As notícias que se tem, atualmente, dizem que há pelo menos 10.000 anos o Homem busca por isso.

Na verdade, o Homem busca por isso desde seu surgimento. Desde que o homem existe, ele busca por uma vida livre de sofrimento. Uma vida “feliz”. Até hoje, parecia não ter encontrado. Mas alguns dizem que sim. E outros dizem que sim, mas que é muito complicado.

Eu não diria uma coisa, nem outra. Mesmo porque, uma vida completamente livre de sofrimento é impossível para o nosso nível de desenvolvimento humano. Não o IDH da ONU, mas o índice geral de “civilidade” (palavra tão dita hoje, mas que perdeu seu significado com o tempo, onde homens ditos “civilizados” se anatematizam por um pedaço de terra, ou coisa do tipo); o índice não contabilizado que diz o quanto estamos perto ou longe do que a maioria das religiões, em especial as espiritualistas, da “perfeição divina”.

A questão é que sempre entramos num impasse, quando se fala de perfeição, ou perfectibilidade. Por um lado, se dissermos que o ser humano pode ser perfeito, logo, o ser humano pode se tornar Deus. “Sois Deuses” (João, 10:34), disse o Cristo.

Porém, se o ser humano é perfectível, e por conseqüência, um Deus, porque deve louvores ou qualquer coisa a outro Deus? É o que diz o Budista, quando menciona o Todo Universal. O Budista ignora a existência de um Deus, paternalista. O que existe, é o amor ao próximo. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.

Este é o grande e primeiro mandamento.

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.

Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus, 22:37 à 40).

Ou seja, Cristo predicava que o amor ao próximo é tão importante quanto o amor à Deus.

O Budista diz que o amor ao próximo é o mais importante.

De certa forma, dá tudo na mesma.

Mas esse não é o ponto. A questão é:

O homem se digladia, não só com Deus, mas consigo mesmo, desde o início dos tempos, e da consciência humana, a entender seu mundo, e como reagir à ele. Para se livrar de uma vida de sofrimentos. É para isso que existem as religiões.

Para mostrar um caminho diferente, aos homens. Mostrar-lhes que existe uma possibilidade de ser diferente, e deixar de lado o sofrimento.

Lógico, que com o passar do tempo, se criou, em especial no eixo judaico cristão, a idéia de Bem X Mal, ou seja, que a vida humana é apenas um joguete na mão de forças mais poderosas que ele, personificadas em Deus (Javé, Deus ou Alláh) e no Diabo (Lúcifer, o Anticristo ou os djinns).

Porém, o que poucos enxergam, é que as lutas “bem x mal”, ou das tristezas contra as alegrias, ou dos pecados contra as virtudes, só existe dentro do próprio ser humano.

Achamos errado matar qualquer ser vivente sobre a Terra. Um leão, ao perseguir uma corsa ou antílope para se alimentar, não se questiona se é certo ou errado. Apenas faz aquilo que pertence à sua natureza. Consegue imaginar um leão vegetariano?

O Homem se esquece que é animal, também. E precisa seguir e ter instintos. Caso contrário, é negar aquilo que foi desde o surgimento da raça humana. O que o manteve e mantém vivo. Aquilo que fez com que o homem “crescesse e se multiplicasse”. “... frutifiquem e se multipliquem sobre a terra.” (Genesis, 8:17).

Mas também, se entregar a isso não é bom para o Homem. Uma sociedade onde tudo fosse permitido... O que seria? Não haveria o que Freud chamou de Sublimação, que é quando o homem deixa de gastar a libido (energia) apenas com o sexo, mas com algo que é produtivo, não apenas para si próprio, mas também para a coletividade à qual pertence. O próprio Freud, ao final da vida, disse que na verdade, o Amor estava por trás de tudo. Fosse o amor ao próximo, ou aos entes queridos.

Porém, tudo isso faz parte do ser humano. Seja o “bom, o bem, o limpo, o virtuoso”, seja o “mal, o mau, o sujo, o pecaminoso”. O homem tem tanto luz quanto trevas dentro de si. Tem tanto santo quanto demônio. Tanto Deus quando Diabo.

Diziam os antigos “In Medio Stat Virtuus”. A virtude está no equilíbrio.

Ou seja, sabermos equilibrar o que há de bom e mau em nós, isso é a verdadeira sabedoria. Saber que somos capazes dos atos mais puros, como dos mais degradantes. E saber escolher o que é necessário, dado o momento.

Às vezes, é necessário ser rude com alguém, para que a pessoa saia de uma atitude que apenas lhe faz mal. Como também é necessário ser suave com aquele que cometeu crimes.

Ou seja, tudo depende da necessidade momentânea. Claro que é necessário olhar para o futuro. Mas vivendo no presente, e lembrando o passado, para não incorrer nos mesmos erros.

O Homem já conhece esses conceitos, há séculos. Quem conhece o Taoísmo, compreenderá.



Yin e Yang, energias em equilíbrio.

Eis o caminho, não da felicidade, mas da vida com menos estresse.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito, muito bonito.
E muito bem escrito.
Parabéns, Fio!

Anônimo disse...

Ótimo texto , Fio!
Acho que dos que você escreveu, esse foi o que mais gostei. principalmente deste trecho: "Ou seja, sabermos equilibrar o que há de bom e mau em nós, isso é a verdadeira sabedoria. Saber que somos capazes dos atos mais puros, como dos mais degradantes. E saber escolher o que é necessário, dado o momento."

= )

Anônimo disse...

É aceitar a dualidade inerente em cada ser humano. Isso é sabedoria, como o equilíbrio e estar consciente de que tudo depende do nosso livre-arbítrio.
Eu sou adepta da crença no "caminho do meio", que, aliás, é infinito e cheio de nuances múltiplas.
Venha conhecer a gente tb, tá bom?
Beijão!
Letícia.
http://babelpontocom.blogspot.com

Melissa de Castro disse...

Eu sempre busco o equilíbrio. Mas já me conformei, sei que sou uma desequilibrada mesmo... =P

Gostei do texto, Fio!
Beijos!

Nanael Soubaim disse...

Meu bem parou de lutar contra o meu mal e passou a trabalhar com ele, foi assim que comecei a ficar feliz.