segunda-feira, 21 de abril de 2008

Dicionário de família

Famílias são estranhas. Tão estranhas, a ponto de ter uma linguagem própria, que ninguém de fora entende. Fiquei relembrando algumas das nossas gírias (se é que se pode chamar assim) mais usadas e, digamos, estranhas. Será que mais alguém diz isso?

"Assunto de 1910": Expressão criada pela minha tia e usada sempre que alguém começa a contar “causos” passados, geralmente no intuito de reacender velhas brigas. É mais ou menos assim: “Ih, não me vem com isso de novo! Isso é assunto de 1910!”. Como a gente não se vê muito, quando nos encontramos, sempre tem a hora da sessão nostalgia. Ao nos darmos conta de que estamos falando de coisas antigas, alguém diz: “Assunto de 1910!”. Neste caso, a expressão não é usada de forma negativa.

"Agora já vai"!: Minha avó materna costumava dizer isso, sempre que alguém vinha com algum pedido descabido. “Vó, faz uma nega maluca?”. A resposta: “Agora já vai!”, querendo dizer que não faria coisa nenhuma (pelo menos, não naquele momento). Equivale ao “Aham, Cláudia, senta lá!”.

"Primeiro...": Quando eu era criança, lá perto de casa morava um menino que era louco por carros. Ao encontrar qualquer vizinho na rua, ele começava a dizer todos os carros que aquela pessoa já teve. Era sempre assim: “Primeiro, o senhor teve uma Brasília. Depois, o senhor teve um Chevette, depois...”. De vez em quando, a gente faz a mesma coisa aqui em casa, só para irritar minha mãe. Nem precisa dizer mais nada, é só dizer “Primeiro...”, que ela já se apoquenta. Já fizemos a lista dos carros, dos cachorros e sabe-se lá do quê mais. Adoro. É uma coisa deveras retardada.

"Coisa mais querida da casa": Qualquer cachorro, segundo a minha opinião. Novamente, minha mãe não concorda.

"Nê!": Uma forma mais veemente de dizer “não”. Por exemplo: “Quer ir para a praia no feriado?”. Se a pessoa disser “não”, pode até voltar atrás. Mas, se disser “nê!”, não tem conversa. Estranhamente, o uso dessa expressão acompanha uma careta. Não tem como dizer “nê!” sem fazer cara feia.

"Quarenta!": A minha preferida! Foi criada pela minha avó paterna. Serve principalmente para ironizar. Alguém diz: “Vou ganhar na mega-sena!”, e a gente responde: “Quarenta!”, querendo dizer que a pessoa vai ganhar coisa nenhuma. Também serve para aqueles pedidos descabidos... “Quarenta” foi o número original, mas usamos qualquer numeral para expressar a mesma coisa: 70, 50, 300, dependendo da intensidade que queremos dar à frase.

"Pum!": Um dos meus irmãos inventou isso, quando a gente era criança. Não tem nada a ver com gases intestinais. Pum é qualquer coisa sem graça, ruim, tosca. Existem lugares puns, pessoas puns, músicas puns. Quem diria, pum é multiuso! Era muito legal, quando alguém se empolgava e contava uma história qualquer e o outro simplesmente respondia: “Pum!”. Também se dizia “muito pum” ou “que pum!”.

Chamar a pessoa de alguma coisa que ela acabou de falar: Nem é uma expressão, é uma mania (acho que mais pessoas fazem isso). Alguém está contando que visitou o Pelourinho e a gente interrompe, dizendo: “Tá, Pelourinho, vamos almoçar que a comida vai esfriar”.

Tem gente que reclama tanto da família, que acaba esquecendo dessas coisas boas. Faz bem saber que existe um grupo de pessoas que sempre vai te apoiar, que vai brigar contigo sempre que for necessário e que, como se isso tudo não bastasse, vai entender todas as bobagens que tu disseres. Para sempre.

8 comentários:

(Didixy) Conquistadores disse...

rsrsrs

Muito bom mesmo.
EU gostei muito. Preincipalmente do seu topo.

Bjs
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Anônimo disse...

Muito divertido seu texto!!!
Na minha família, a "gíria" é "eu faço, você faz, o motorista faz...", e variações de verbo (tipo "eu uso, você usa, o motorista usa..."), que surgiu de uma piada bem sem graça.

Rafaela disse...

Eu sempre chamo a pessoa por alguma coisa que ela acabou de falar!!
E eu xingo (carinhosamente) também =p

fabio_ disse...

Ótemo! Em casa, sou eu, mamãe e os gatos. Então temos todo um código para nos comunicarmos.
A clássica aqui é o "né?", que pode atender os mais diversos propósitos de acordo coma careta e a expressão que o acompanha.
Toda uma linguagem corporal...

Melissa de Castro disse...

Fabio, eu uso o "né?" pra tudo também.

E o pum, Luna, eu costumo dizer quando uma pessoa está com uma cara não tão agradável. "Nossa, que cara de pum!"

Adoro essas gírias familiares.

Renatinha disse...

Que divertido!
Me senti na mesa do almoço com sua família falando nê.... vou adotar este, posso? rsrsrrs
beijos
Re

Fábio Melo disse...

Aqui em casa é "coisa de 1900 e bolinha" =P
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TemPraQuemQuer

Nana disse...

Ahh minha familia tambem tem um ótimo vocabulario proprio. Pensei ate em fazer um mini dicionario e presentear todo mundo no fim do ano, mas falta tempo, coragem e memoria.
Vamos fazer assim: eh nosso ;)
Bjs