sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Um homem contra o tempo

Ele abriu os olhos, irritado com o som intermitente do despertador. As pernas e os braços doíam, como haviam doido todos os dias, como sempre acontecia. Espreguiçou-se, fez força para levantar. Já haviam passado cinco minutos.

Foi ao banheiro, ainda tropeçando com o sono. Leva pelo menos 15 minutos até despertar totalmente. Sentou-se, acendeu um cigarro. Pensou no dia que vinha pela frente. Já haviam passado mais 10 minutos.

Voltou ao quarto, pegou suas roupas, sua toalha. Voltou ao banheiro. Jogou as roupas com que tinha dormido no chão. Ligou o chuveiro. Tomou um banho lentamente, pois o sono ainda o acompanhava... Hoje, estava demorando para acordar. Já haviam passado mais 20 minutos.

Secou-se, fez a barba. Realmente, barbear-se após o banho era melhor. A pele fica mais lisa, e macia. E os pelos saem mais facilmente. Vestiu-se. E já haviam passado mais 10 minutos.

Agora estava desperto. Desceu as escadas, arrumou suas coisas. Foi até a cozinha, não havia café. Pegou o bule, o coador, o pó de café, o açúcar. Pôs a água para ferver. Acendeu um cigarro. Já haviam passado mais 10 minutos.

Enquanto isso, o Sol lá fora brilhava, sem ligar para o que acontecia.

Coou o café, escaldou a garrafa. Encheu um pequeno copo, e bebeu. Planejou a saída, por aonde iria, que ônibus pegaria. Pensou se daria tempo para tudo. Mais 10 minutos haviam passado.

Escovou os dentes, passou mais desodorante. Conferiu se havia pego tudo o que precisava. Olhou novamente no mapa para se certificar. Pegou as chaves, abriu a porta. Saiu. E lá se foram mais 5 minutos.

Andou até o ponto do ônibus, e esperou. Acendeu outro cigarro, enquanto esperava. O ônibus chegou. Ele subiu, e ficou em pé. Não havia mais lugar para sentar. Desceu do ônibus na avenida movimentada, sem ter muita certeza de qual direção deveria seguir.

Perguntou ao passante pelo caminho. O passante não sabia. UMA HORA havia passado.

E o Sol continuava brilhando, alheio à ele.

Encontrou outro passante. Este soube lhe dizer o caminho. “Segue a rua até o final, depois entra a esquerda, depois à direita”. E lá foi ele. Encontrou o seu destino. Havia chegado cedo. Teria que esperar mais UMA HORA.

O momento se aproximava. Entrou, e procurou a pessoa com quem devia falar. Deveria esperar, pois haviam outros na frente. Acabou puxando assunto com outro, igual à ele. Estava ali pelo mesmo motivo. A conversa fluiu fácil. E mais 30 minutos se foram.

Finalmente, seus documentos foram pedidos. Ele pode encontrar a pessoa que o havia chamado. A conversa fluiu fácil. As esperanças são grandes. Ele vai precisar correr. E muito. E mais 20 minutos se passaram.

Saiu, levando consigo a mente cheia e o estômago vazio. O trabalho o esperava. Precisaria correr, agora. Um ônibus, um metrô, outro ônibus. UMA HORA E MEIA havia passado.

Chegou ao trabalho. Não havia muito o que fazer. Mas ele precisava correr. Há perguntas à serem feitas para as pessoas certas, há respostas à serem dadas. Há coisas para estudar, e resoluções para serem tomadas. Ele acende outro cigarro. A tarde avança. Mais TRÊS HORAS se vão.

Havia chegado atrasado ao trabalho. Mas ninguém tinha ido lá pra conferir. Resolveu voltar pra casa. Mais dois ônibus, um metrô, e mais TRÊS HORAS passaram.

O Sol estava escondido agora pelas nuvens, de uma chuva que se anunciou o dia inteiro, mas não veio.

Chegou em casa, contou sobre seu dia à sua mãe. Recebeu telefonemas, fumou cigarros.

Falou com aquela que realmente importa. Tomou outro banho, havia sido um dia quente. Jantou, descansou. Mais um cigarro. E mais DUAS HORAS se foram.

O Sol já tinha ido embora. A Lua deveria estar no céu, mas não estava. As nuvens da chuva que não vem a encobrem.

Ele volta ao quarto, senta-se a frente de seu computador. Acessa a internet, fala com amigos. Decide escrever um texto, para seu blog. UMA HORA E MEIA havia passado.

Ele termina seu texto. Tenta publicar, mas a internet lenta insiste em deixá-lo irritado. 20 minutos esgotam a paciência dele.

Ele não sabe como terminar seu dia.

A outra sexta feira havia passado tão rápido....

E ele passa, inexorável...

2 comentários:

Luna disse...

Amei, amei, amei!!! Sem palavras! Parabéns, Fio!

Melissa de Castro disse...

Que bonito, Fio...